novembro 17, 2025
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James Holland é um cara durão. O historiador britânico é difícil de localizar, segundo os seus agentes literários em Espanha. Um dia ele vai ao Oceano Pacífico para gravar um novo programa, “Megaestruturas Nazistas”; outro recorre aos arquivos alemães para estudar cuidadosamente as informações necessárias. para preparar o caminho para alguns dos muitos livros que ele escreve. Isso não para. Às vezes, porém, a magia funciona e ele aparece em Madrid para lançar livros como Band of Brothers (Book Attic), um ensaio que levou 15 anos para lançar luz sobre o regimento blindado dos Sherwood Rangers. Se na semana passada ele nos contou os seus segredos na ABC, hoje perguntámos à “estrela do rock” sobre os mitos mais comuns da Segunda Guerra Mundial, e cara, ele expôs-os claramente: a idealização dos tanques de Adolf Hitler, o excesso de força da 101ª Divisão Aerotransportada e a falsa segurança do combate blindado.

– Neste jornal você argumentou que o melhor tanque da Segunda Guerra Mundial não era o alemão, como sempre diziam, mas sim o americano. Você ainda pensa nisso, anos depois?

Certamente. Analisar tanques de batalha não é fácil. Não é só uma questão de quem tem a arma de maior calibre, quem tem o chassi maior, ou o que é mais assustador… É preciso pensar no veículo como um pacote completo, e o Sherman é o melhor nesse quesito. Mecanicamente, era muito confiável e facilmente reparado em batalha. Além disso, ele funcionava como um carro, permitindo que qualquer pessoa o dirigisse. Ele tinha a arma mais poderosa? Não, nem mesmo com a melhor armadura, mas era incrivelmente versátil, rápida e havia muitas delas – 36 para cada Tigre Alemão muito mais pesado. Graças a eles, as forças blindadas aliadas sempre mantiveram pressão e iniciativa na batalha.

– Você prefere enfrentar um Sherman ou um Tiger?

É claro que eu preferiria ter um Sherman na minha frente do que um Tiger! Mas o normal é que não estavam sozinhos, sempre foram muitos. Além disso, sempre nos esquecemos dos fracassos do Tigre. Era bem mais lento que o Sherman, tinha uma transmissão semiautomática projetada por Ferdinand Porsche, que era muito complexa e causava muitos problemas… E há um elemento que ninguém lembra: quando você está no campo de batalha, dirigido por um adolescente inexperiente, você tem que confiar na confiabilidade, porque é muito provável que algo dê errado mecanicamente. Então, quando digo que o britânico Sherman ou Cromwell é melhor, é porque estou convencido disso depois de analisar toda a cena.

James Holland durante entrevista à ABC

IGNÁCIO GIL

– O Cromwell também era um bom veículo blindado, apesar de ser mais leve?

Acho que este é um dos melhores tanques da guerra. Ele tinha um perfil mais baixo que o Sherman, reduzindo a probabilidade de impacto, e era incrivelmente rápido, além de muito confiável mecanicamente.

– Valeu a pena derrotar um monstro como o Tigre Alemão?

No final das contas, quando você está em combate, são os fundamentos que podem fazer pender a balança. Por exemplo: quem atirar primeiro provavelmente vencerá o confronto. Além disso, o principal não é apenas finalizar o adversário, mas ter a velocidade necessária para que, quando chegar a hora, você possa fugir dele caso surjam problemas.

– Você conhece pelo menos um caso em que um único Sherman derrotou um Tiger?

Sim, falo sobre isso no livro. John Semkin, um dos personagens principais do meu novo ensaio, encontrou o Tiger enquanto ele era comandante de um esquadrão de Sherwood Rangers. Foi perto de Fontenay-les-Pins, na Normandia. Ele colidiu com ele após uma curva, a cerca de 200 metros de distância. Era lógico pensar que iriam explodir, mas isso não aconteceu. Ele atirou dez vezes antes que Tiger pudesse responder uma vez. Após esta demonstração de pólvora, os alemães se renderam.

Seu livro é baseado em Blood Brothers, a série da 101ª Divisão Aerotransportada de Spielberg, e no livro em que é baseado. Você acredita, como muitos fãs da Segunda Guerra Mundial, que esta unidade de pára-quedistas americanos foi a melhor no conflito?

Eu não diria que a 101ª Divisão Aerotransportada foi a melhor, mas foi a mais famosa. O show é ótimo, já assisti muitas vezes e conheço várias pessoas que trabalharam nele. Mas no final das contas, se falamos das unidades mais mortíferas da guerra no exército americano, não podemos deixar de mencionar o Terceiro Regimento de Infantaria. O mesmo se aplica à 82ª Divisão Aerotransportada, uma das divisões que mais atuou durante a Segunda Guerra Mundial, lutando na África, Itália e Sicília antes da Normandia. O principal é não confundir fama com habilidade e competência. Não é a mesma coisa. Pessoalmente, prefiro ver a empresa Easy, que aparece na série, como um exemplo específico a seguir, e não como o melhor no geral.

– Outro mito que está sendo destruído é aquele que diz que é mais seguro lutar num tanque do que numa divisão de infantaria…

É um mito que era seguro lutar num tanque. Os números dizem-nos que era proporcionalmente mais perigoso do que estar nas trincheiras de Verdun, do Somme e de Passchendaele, o epítome da carnificina da Primeira Guerra Mundial. A narrativa oficial também por vezes esquece que 70% do exército americano era de infantaria, número que subiu para 86% nos contingentes britânicos e canadianos. No caso dos EUA, apenas 8% correspondiam a unidades blindadas.

– Desses 8%, todos eram tripulantes de tanques?

De jeito nenhum. Desses 8%, apenas 48% lutaram num tanque; o restante, 52%, apoiou-os transportando munições e suprimentos ou dirigindo veículos de recuperação. Nas unidades blindadas britânicas, 43% dos soldados pertenciam às forças militares: conduziam camiões, transportavam tanques para o campo de batalha…