dezembro 12, 2025
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O novo Supremo Tribunal da Nação (SCJN) completa os seus primeiros 100 dias com todos os olhares voltados e poucas polémicas. Num relatório de final de ano, o presidente Hugo Aguilar defendeu o Tribunal Superior como querendo “ir além dos ficheiros, da burocracia e da indiferença para alcançar uma justiça que mude a vida das pessoas”. Esta ideia, que reformulou de várias maneiras ao longo do seu discurso, também encontra ressonância política em alguns dos recentes debates que surgiram no plenário para levar o quadro jurídico aos seus limites, num esforço para alcançar “justiça real e verdadeira”, abrindo mesmo a porta à reabertura de julgamentos fechados. Ao justificar o trabalho do Tribunal Constitucional, Aguilar também criticou duramente o tribunal anterior, que acusou de ser “lento, egocêntrico e até arrogante”. Os novos ministros chegaram com a intenção de “mudar a situação”.

O saldo, porém, continua negativo em relação ao último relatório da ex-presidente Norma Piña. O Tribunal Superior do México resolveu 2.590 casos nesses três meses, uma queda de 6,6% em relação ao mesmo período do ano passado, quando as câmaras que tratavam da maioria dos casos ainda estavam em sessão. Eliminá-los através da reforma judicial, uma das medidas mais criticadas pelos especialistas, obrigou o Plenário a assumir a maior parte deste trabalho, e embora o número médio de questões por ele resolvidas tenha aumentado significativamente – de 1,8 questões por sessão para 16,4 – isso não foi suficiente para manter o nível de resolução anterior. “Na integração anterior, 98,15% foram decididos com menos da metade dos ministros”, justificou o presidente. “Esta abordagem mais assegurada, pluralista e aprofundada reflete a vontade de garantir resoluções claramente fundamentadas”, acrescentou, destacando o número de questões apreciadas em plenário: 663 neste período, contra 75 no período anterior.

A ministra do Interior, Rosa Isela Rodríguez, participou na reunião desta quarta-feira, em representação da presidente Claudia Sheinbaum, bem como Laura Itzel Castillo e Sergio Gutiérrez Luna, presidente e vice-presidente do Senado e da Câmara, respetivamente, em nome da Assembleia Legislativa. Também estiveram presentes a nova Procuradora-Geral da República, Ernestina Godoy, e a chefe do governo da Cidade do México, Clara Brugada, bem como os presidentes dos restantes órgãos judiciais. A presença de todas as forças do Estado transformou a reunião “num ato republicano”, sublinhou Aguilar, que rejeitou qualquer ligação política ou interferência no trabalho do Tribunal.

A suspeita pesa sobre nove ministros desde que deixaram as urnas em junho passado, reforçada por acordeões ou guias de votação distribuídos pelo partido governista Morena. “Hoje não há subordinação e subordinação, mas há cumprimento institucional e respeito aos poderes de cada pessoa”, defendeu o presidente, recebendo aplausos no salão. “O tribunal não responde a interesses específicos, não se adapta às pressões atuais, não permite que o clima político distorça o seu papel. Este tribunal não está inclinado a favorecer qualquer agenda fora do quadro constitucional. A independência do poder judicial é um elemento fundamental”, acrescentou ainda no seu discurso, no qual elogiou a eleição dos juízes por voto popular: “Mais do que nunca, a responsabilização é um imperativo legal, ético e social”.

Este é um dos aspectos que mais preocupa o novo Tribunal, que fez do trabalho em rede e do acompanhamento das interacções dos cidadãos uma questão prioritária. É uma viagem de ida e volta. O público, juntamente com os especialistas, também prestam especial atenção às atividades dos novos funcionários do Tribunal Superior e, de vez em quando, partilham vídeos de juízes discursando, revelando os seus erros jurídicos ou os argumentos mais controversos. Tal escrutínio, disse Aguilar, “não é apenas legal, mas bem-vindo”.

O Presidente, que deu especial ênfase à “nova” natureza do Tribunal, destacou a mudança de visão da instituição, que agora “favorece o rumo das questões que afetam os direitos humanos e os setores tradicionalmente excluídos”. Esta pode ter sido a principal marca que Aguilar, o segundo chefe indígena do Tribunal Superior, deixou no início do seu mandato. Defender o pluralismo cultural e linguístico e proteger os direitos das comunidades tornou-se uma prioridade quase pessoal para o advogado mixteca. “Esta legitimidade democrática (eleição) motivou-nos a assumir o bastão da governação indígena, não como um bastão cerimonial, mas como uma responsabilidade de chegar a quem não pode falar”, disse esta quarta-feira num encontro em que também enfatizou a perspectiva de género, a inclusão social e a abertura ao diálogo, em audiências públicas aos cidadãos semelhantes às realizadas com pessoas com deficiência.

Esta semana o Tribunal conclui o seu actual período de sessões, que será retomado em Janeiro, com o início do ano civil. Nestes três meses foram concluídos alguns casos importantes, como os que adiaram as dívidas ao tesouro do empresário mexicano Ricardo Salinas Pliego, que enfrenta o pagamento de quase 50 mil milhões de pesos, atrasados ​​há mais de dez anos. Esta questão, resolvida rapidamente após vários anos na gaveta do antigo tribunal, estava em consonância com os interesses do poder executivo, para quem a cobrança de dívidas de grandes devedores é um dos seus cavalos de batalha. Outras questões que permaneceriam sem solução no ano seguinte, como a possibilidade ou impossibilidade de reabertura de julgamentos concluídos, entraram em conflito entre os dois poderes e obrigaram Sheinbaum e o seu partido a impor restrições ao Tribunal pela primeira vez desde a sua criação. Do lado civil, permanecem dúvidas de que o novo Supremo Tribunal continuará a ser testado quando regressar das férias de Natal.

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