O comando da candidata presidencial da esquerda chilena, Jeannette Jara, anunciou na noite desta quinta-feira que pediu a renúncia do seu assessor estratégico, o sociólogo Dario Quiroga. O comunicado público refere que a demissão se deveu ao “fortalecimento e reestruturação da campanha” e “aos novos desafios exigidos nesta nova fase”, em que Jara entrou na segunda volta com o republicano radical conservador de direita José Antonio Kast após as eleições de domingo, 16.
Quiroga trabalha com Jara desde sua candidatura nas eleições primárias de esquerda realizadas no final de junho, quando derrotou a social-democrata Carolina Toja com 60% dos votos. Apesar do bom desempenho, a demissão ocorreu após a revelação de uma série de acontecimentos polêmicos em que esteve envolvido, que colocaram em dúvida sua posição esta tarde. Entre elas estão críticas e declarações que a própria porta-estandarte da esquerda considerou clássicas e que o sociólogo transmitiu em abril em seu programa. Ultrassolo canal Mudança, que é transmitido no YouTube. Lá ele classificou o populista Franco Parisi, líder do Partido Popular (PDG), de “extrema direita” e que ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais de domingo, 16, com 19%. Ele também fez referências depreciativas à sua irmã Zandra Parisi, que acabara de ser eleita deputada, e ao DPG.
Quanto à irmã do candidato, Quiroga disse não saber se foi “por motivos de imigração ou por motivos esvoaçante (classe baixa) cujo nome é Zandra com Z.” E quanto ao PDG, observou, enquanto o programa mostrava imagens de Franco Parisi chegando ao aeroporto de Santiago do Chile: “Toda a estrutura do Partido Popular é muito engraçada porque é muito cantar (incompetente), ele é pobre… Eles colocaram alguns velhos Chunusco sobre ele, como para mostrar que “a cidade se espalhou pelas ruas”, e atiraram nele de muito perto”.
O programa de Quiroga foi revivido nas redes sociais no momento em que Jara busca o apoio dos eleitores parisienses para enfrentar o difícil Cust no desempate no dia 14 de dezembro. Hara foi consultada nesta quarta-feira sobre as declarações de seu assessor. “A primeira coisa que posso dizer é que você nunca verá um vídeo desse tipo no meu caso. Esse não é o meu estilo, não sou o tipo de pessoa que trata os outros assim.” E acrescentou: “Nunca gosto de declarações classistas porque, via de regra, afetam a grande maioria. Inclusive eu, porque também vivi muito classismo nesta campanha, e é muito feio”.
Jara também disse que Quiroga pediu desculpas públicas e privadas a Franco Parisi e sua irmã.
Mas ocorreu outro acontecimento que possibilitou ao candidato abandonar seu orientador. Esta quinta-feira, pouco antes da sua demissão, os meios de comunicação social Ex ante publicou um artigo no qual dizia que Quiroga foi levado a julgamento em 2011 em um caso em que promotores de Calama, norte do Chile, o acusaram de prejudicar e ameaçar um líder operário da empresa estatal de cobre Codelco. “O arguido chegou e, estando fora de casa, começou a insultá-lo e a ameaçar bater-lhe e matá-lo, tendo depois levado um objecto contundente, com o qual partiu o pára-brisas e todos os vidros do carro”, refere o processo. O sociólogo teve que lhe pagar uma indenização, além disso, ele foi proibido de se aproximar de menos de 200 metros.
Jara foi consultado esta tarde sobre a gestão de Quiroga no cargo. “Não excluo nem confirmo, porque esta é uma decisão que vou tomar de forma autônoma como candidato à presidência do Chile.” E ainda observou: “Não gosto de comentários classistas. Não sou esse tipo de pessoa. Não uso essa linguagem e considero-a inadequada”.