Em uma entrevista recente, Jorge Martinez Ele disse que a melhor hora para dizer adeus é quando você mais ama a vida. Talvez seja por isso que era problema dele tão destrutivo quanto trágicoapenas dois meses e meio após a confirmação do câncer … esse tempo passou com uma fome insaciável.
Horjon, canibal de Oviedo e Cimadevilla, panquiilustrado, famoso rufiãoele saiu sem fazer barulho ou mesmo fazer barulho. Porque a elegância sempre foi a sua praia, dândi do excessopreciso como um foguete, com olhar cheio de curiosidade e capacidade de compreender a vida segundo a severidade de suas regras: livre, brilhante, legal, louco e honesto. Ele era alto, como uma maldição bem dita, e atarracado, como um juramento antigo. O cara que entrava em qualquer bar parecia abrir um buraco. As pessoas chamavam Jorge Martinez de Ilegal muito antes de ele cantá-la. E isso combinava perfeitamente com ele: impetuoso, desbocado, assumidamente provocador, selvagem em convicção. Um desajustado social, mas do tipo que, em última análise, dita a sua própria lei. E que músico. Que rara delicadeza ele tem, escondida debaixo de tanto ferro.
Nos anos oitenta, quando metade do país se gabava de tocar aos trancos e barrancos, Jorge manejava a guitarra com uma precisão que parecia um insulto. Tive atitude punk – um pouco mais punk que ele – mas as músicas sempre iam um pouco além: secas, poderosas, cristalinas, com melodias que brilhavam como uma faca sob a lua. “New Times, Wild Times”, “I’m a Badass”, “Hello, Mamoncete!”, “Cansado de Esperar pelo Fim…” – hinos que já foram incluídos na composição DNA da música em espanholembora ele nunca aceitaria algo tão solene.
Aos vinte anos, saiu de casa com tanta fome que colocou fogo no palco.
Nasceu em Avilés em 1955. família nobre que agora era o fim da corrida, com a dignidade preservada e o frio causado pela falta de aquecimento neste Palácio de Bolges, que não podia ser aquecido a não ser pelo rock and roll vindo do quarto de Jorge. Quando criança, ele era um ouvinte de rádio dedicado: Eu odiei essa música e assisti como um cão de caça com fones de ouvido no momento em que eles estouraram Elvis, estrela solitáriae acima de tudo Bravos. Ao ouvir “Black is Black”, ele descobriu que sua vida mudou. Ele ligou e nunca desligou.
Ele cresceu lutando contra o mundo, incluindo seu pai. Ele obteve sua licença de músico enquanto Franco ainda estava no comando, tocou em orquestras, fez um teste para advocacia e deixou tudo na sarjeta. Aos vinte anos saiu de casa com tanta fome que conseguiu atear fogo ao palco. Primeiro com Madson, depois com Los Metálicos e finalmente com esse nome era destino: Ilegais.
Jorge atravessou Gijon vestido como um fashionista e carregando um taco de hóquei como um homem de jaqueta de couro.
Às vezes cometiam um pequeno crime, às vezes cometiam crimes e quase sempre se metiam em encrencas.. As Astúrias estavam a todo vapor: reconversão industrial, desemprego, gangues, bolas de borracha, seringas. Jorge atravessou Gijon vestido de fashionista, segurando um taco de hóquei como se alguém vestisse uma jaqueta de couro (isso também): sua maneira de marcar o tempo.
Nos shows, a violência não era um acidente: fazia parte do repertório. Se alguém cuspisse no palco, Jorge correria para o público como um projétil educado na rua. Se duvidassem de sua competência, o taco de hóquei provavelmente explicaria a falta de registro. Ele tinha um credo: você não pode ser honesto sem fazer inimigos. E quando encontrou, comemorou. Ele era um kamikaze, capaz de cantar durante uma tempestade quando outras pessoas deixavam o palco com medo de serem eletrocutadas. E Astúrias puras, drogadas, bêbadas, políticas, violentas, felizes e dinamites.
Ele era um canalha, sim, e um poeta com uma camisa manchada de vida.
LulaNo livro de Carlos J. Vázquez, publicado pela Efe Eme, Jorge Martinez: Conversas Ilegais, afirma-se que “Jorge está sozinho, mas bem acompanhado pelas suas guitarras, garrafa e chuva. Até os ateus aprenderam peça a Deus para se tornar Jorge Ilegal por um dia. Os valentes pedem uma vida inteira, sem cabelos, mas com violões, pele de amianto e ovos de ouro. E o coração ilícito… Aquele que poucos de nós sabemos ver. E não tema a vida nem a morte.”
Hoje Jorge não existe mais. O homem que gritou sem pedir perdão foi embora, mas o eco permaneceu: um eco puro, agudo, do tipo que resiste a qualquer moda. Sim, ele era um canalha e um poeta com uma camisa manchada pela vida. Um cara elegante à sua maneira: a elegância de quem não se ajoelha.
Obrigado por nunca ser como os outros.