dezembro 12, 2025
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Os dados são convincentes: na Colômbia, 99% das empresas inscritas no Cadastro Uniforme de Empresas e Organizações Sociais (Rues) são micro, pequenas e médias empresas (MPME). Eles criam 79% dos empregos do país, 53% do emprego formal e produzem quase 40% do PIB. Apesar disso, o seu acesso ao crédito formal é insuficiente. Um estudo da BBVA Research mostra que “78% das médias empresas têm acesso ao crédito formal, 64% das pequenas e apenas 16% das microempresas, contra 84% das grandes empresas”. Na prática, isto significa que, no caso das microempresas, o financiamento provém principalmente da poupança pessoal, de empréstimos informais com taxas usurárias ou simplesmente da incapacidade de contrair dívidas, o que acaba por retardar as suas oportunidades de crescimento.

Nesta lacuna terrível na inclusão financeira e no acesso ao crédito – semelhante no resto da América Latina, com uma em cada três PME a reportar limitações no acesso ao crédito, de acordo com o CAF – Banco de Desenvolvimento da América Latina e das Caraíbas – José Vélez (Bogotá, 47) viu um negócio multimilionário e uma oportunidade para as MPME e microempresas poderem crescer através do acesso a produtos financeiros.

Assim, em 2018, nasceu a Bold. fintech ou uma plataforma de serviços financeiros e tecnológicos cujo cliente principal é “aquela base de negócios que tem sido um pouco negligenciada pelo setor bancário”, explica Velez. O negócio era arriscado, mas com foco claro no futuro. Hoje, a Bold tem cerca de 600 mil clientes conectados, 6% de tudo o que é processado com cartão na Colômbia já passa por sua plataforma e a empresa planeja processar cerca de 1,7 trilhão de pesos até dezembro de 2025. Tudo começou com acesso facilitado a telefones de dados.

A aposta ousada não é a primeira grande aposta de Veles. Na verdade, ao longo da sua vida, ele esteve sempre um passo à frente dos seus pares. Ainda adolescente, ainda na escola, este bogotánico, nascido em 1978, já sabia programar, ensinava estudantes universitários, vendia computadores e, numa época em que poucos conheciam o assunto, desenhava páginas web.

Em 1997, ingressou na universidade para estudar economia e engenharia de sistemas em programa duplo, mas decidiu abandonar o segundo e se concentrar no primeiro. Ele ainda nem havia concluído o curso quando ele e um grupo de amigos criaram o Pagosonline.net, um gateway de pagamento online, em 2002. Na época, o negócio era arriscado e profundamente revolucionário: a penetração da Internet era mínima, as pessoas não confiavam no comércio online, poucas empresas ousavam oferecer esse tipo de pagamento e muito poucos compradores o utilizavam por medo de serem enganados. Pagosonline foi um sucesso e continua com o nome PayU. Podemos dizer que Veles e seus sócios estiveram entre os antecessores fintech na Colômbia.

No início de 2010, a Pagosonline vendeu uma participação majoritária para o gigante sul-africano de pagamentos online Naspers Group, que adquiriu toda a empresa em 2012. Como resultado dessa transação, nasceu a PayU Latam. Velez trabalhou lá por mais cinco anos até se aposentar em 2018. É aqui que começa a história de Bold. Por volta de 2017, ele e sua esposa Ana Sandoval, diretora de vendas e cofundadora da Bold, viajaram ao Brasil para continuar a expansão da PayU; Lá observaram de perto a lacuna na inclusão financeira entre as MPME e as grandes empresas, bem como o rápido crescimento fintech. Dessa análise surgiu a ideia de criar uma plataforma de serviços financeiros para micro, pequenas e médias empresas: “Ficou muito claro para nós que existia uma oportunidade semelhante na Colômbia e em 2019 voltamos à Colômbia para criar a Bold”, afirma.

Usando as economias de seu trabalho na PayU e o capital de outros investidores, ele começou a realizar seu sonho: construir armazém geral (uma plataforma que oferece uma ampla gama de serviços reunidos em um só lugar) para as MPMEs mais importantes do país. Vélez e Sandoval juntaram-se a outros dois empresários, Sergio Vergara e Jorge Ulloa. Com apenas 20 funcionários, a Bold passou a oferecer serviços de pagamento, levando telefones de dados para empresas que antes consideravam o aparelho impensável. Fazia sentido começar com isso. Segundo Velez, as MPMEs e microempresas eram ignoradas pelas grandes empresas de pagamento com cartão e obtê-las era uma tarefa complicada: “Quando começamos, fizemos um estudo que mostrou que as PMEs levam um mês para adquirir uma máquina de cartão. Com a Bold, um cliente pode obtê-la em uma hora”.

Desde o início, Veles pensou em Bold como fintech foi além dos pagamentos. Entraram neste mercado pela necessidade urgente de acesso a telefones de dados, “mas desde o início sempre nos vimos como uma empresa financeira de apoio a pequenos empreendedores e PME. Os telefones de dados tornaram-se uma porta de entrada para lhes oferecer outros serviços, que foram consolidados ao longo do tempo”. Hoje, a Bold oferece contas digitais para empresas para que elas possam gerenciar os recursos que recebem por meio da plataforma.

Ele também já se aventurou em empréstimos. “É muito difícil para um banco analisar os riscos dos pequenos negócios porque a grande maioria deles são informais e operam com a identidade do proprietário; não criam uma empresa formal. É muito difícil para o banco avaliar esse cliente: eles não têm contador nem demonstrações financeiras formais. Analisamos as transações telefônicas para conhecê-los e poder oferecer-lhes crédito”, explica. Esse histórico de transações mostra se a empresa está crescendo ou diminuindo, quantos clientes recorrentes ela tem, quanto dinheiro movimenta, quantas reclamações recebe e, em geral, dá uma imagem clara do negócio. Graças a esta análise de dados, os empréstimos podem ser aprovados sem a necessidade de papelada, e a Bold já concedeu cerca de 20.000 empréstimos, totalizando cerca de P100.000 milhões. Para apoiar parte desta atividade, a empresa também lançou uma linha CDT.

Após seis anos de constante expansão na Colômbia, empregando aproximadamente 1.300 funcionários (700 em vendas, 250 engenheiros e o restante em cargos administrativos) e consolidando-se nas principais cidades do país, a Bold começou a conquistar o mercado latino-americano. Em setembro deste ano, a empresa entrou no Peru ao adquirir a divisão VendeMás da Niubiz, líder no ecossistema de pagamentos naquele país, responsável pela gestão de pagamentos para microempreendedores.

Para Velez, além do grande negócio que construiu em apenas cinco anos, a maior satisfação é o crescimento do número de seus clientes: “O que fazemos aqui é algo muito maravilhoso, porque a inclusão financeira e creditícia que promovemos ajuda os empreendedores a crescer exponencialmente e tem um impacto social muito grande”.

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