dezembro 13, 2025
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“Recebemos esta notícia com muita alegria e muita esperança”, afirma Emperatriz Montes, reitora da instituição de ensino de concentração de desenvolvimento rural do município de Saravena, departamento de Arauca, no leste da Colômbia. Em causa estava a aprovação, no início deste mês, da Lei das Artes na Sala de Aula, que “torna a educação artística um direito obrigatório e transversal em todas as escolas públicas do país”, segundo o Ministério da Cultura. A norma afirma que as artes não são complementares, mas são ferramentas essenciais para o desenvolvimento dos alunos, a convivência, a cidadania e uma cultura de paz. “Pela primeira vez, nossos alunos têm acesso contínuo às artes e à cultura no local”, afirma Montes.

A lei torna o programa Artes pela Paz uma política pública, que o governo adotou oficialmente em 2024 e está em vigor desde setembro do ano passado. Segundo dados oficiais, até ao momento já abrangeu 400 mil alunos de 2.616 instituições de ensino do país.

Dos 1.300 alunos, explica Montes, 72% estão inscritos no Cadastro Único de Vítimas de Conflitos Armados. A reitora explica que o seu território historicamente sofreu conflitos e tem poucos cenários culturais, pelo que o acesso constante às artes, agora garantido por lei, permite aos alunos descobrir e desenvolver talentos, reforçar a sua estabilidade emocional e distanciar-se dos actores armados. “Na nossa instituição dá-se muita atenção ao desenvolvimento socioemocional, porque nenhum conhecimento é possível sem uma pessoa emocionalmente estável e motivada”, afirma. Ele acrescenta que o impacto desta regra será especialmente importante entre os alunos do 10º e 11º anos, “que mais sofreram com a guerra”. A dança, a música e a pintura permitem-lhes “redescobrir-se e desenvolver confiança, autoconfiança e tranquilidade”, oferecendo-lhes uma alternativa à “única diversão que estas zonas têm: cantinas em cada esquina e grupos armados”, afirma.

“Como professora, mas também como mãe e cidadã deste concelho, penso que espero realmente que os jovens tenham estes espaços permanentes”, afirma, sublinhando que a lei torna a educação artística independente da vontade política do governante para se tornar a base da educação pública. “Há muito tempo que pedimos isto”, diz Montes, “temos pressionado pelo fortalecimento das artes, da cultura e do desporto. E agora que se tornou lei, dá-nos esperança”.

No extremo oposto do país, no município de Tumaco, no Oceano Pacífico, as emoções são semelhantes. Diana Cortez, diretora da Pacific Dance e membro do National Dance Council, descreve a lei como “reconhecendo as artes como uma ferramenta transformadora em vez de um preenchimento”. Ele explica que isso confirma os processos artísticos em torno dos quais os Tumaqueños construíram suas vidas em um lugar repleto de riquezas culturais, mas profundamente afetado pela violência. “A cultura promoveu a criação de espaços de proteção para os moradores”, afirma. É este trabalho que é reconhecido por lei, que Cortés garante já “começou a ter impacto aqui através da contratação de professores, bem como dos processos de formação e profissionalização deste conhecimento tradicional”.

Esta é uma das tarefas mais importantes no caminho de transição do texto da lei para a realidade: qualificar e profissionalizar como professores aqueles que se dedicam empiricamente à atividade artística. “Não podemos permitir que professores de matemática dêem aulas de dança”, diz Cortez. Para ela, esta formalização é necessária se quisermos fortalecer o pensamento crítico e o papel transformador da arte.

Mais ao norte, no porto de Buenaventura, o evento também é celebrado por Rosana Muñoz, professora e diretora do clube de leitura Mariposas de Amor, que atende meninos, meninas e jovens de 5 a 16 anos. “As crianças vêm carregadas de seu contexto (cruzando conflitos armados, tráfico de drogas e disputas entre quadrilhas criminosas), mas a música, a dança, a poesia as ajudam a liberar inibições e a se afastar desse fardo”, afirma. A arte permite-nos “reconhecer e gerir emoções e dar vida ao que nem sempre conseguimos expressar em palavras”.

Segundo Muñoz, tornar obrigatória a educação artística ajudará a fortalecer a identidade e a valorização das tradições de cada região. “Viemos da educação, onde se fala muito da Europa e das realidades externas. Compreender porque é que o meu coração bate mais rápido quando ouço um cununo ou uma marimba enriquece os alunos e revela a sua individualidade.” Acrescenta que é vital criar espaços permanentes para celebrar a diversidade étnica e cultural, especialmente num contexto onde diz que os jovens muitas vezes carecem de raízes e de um sentido de propriedade do que é tradicional. “Nós os preenchemos com muitos outros conteúdos; você precisa de muita substância”, diz ele.

Esse fortalecimento também deve partir da capacitação, outro ponto central da lei. Muñoz reconhece a importância de os professores utilizarem materiais artísticos como ferramentas pedagógicas mais didáticas. “Se eu ensino a história de Buenaventura e peço que desenhem como era a cidade, estou ensinando história através da arte e contextualizando seu território de forma criativa.”

A centenas de quilômetros de distância, no município de Segóvia, no nordeste de Antioquia, o líder estudantil Andrés Sepúlveda aplaude como a lei está obrigando as escolas a discutir como construir um currículo tendo a cultura como eixo transversal, e a incluir no processo populações historicamente marginalizadas, como os afro-americanos e as comunidades indígenas, que têm uma presença significativa na região. Mas ele está cauteloso com as implicações da regra no mundo real, com várias regiões, incluindo a sua, vendo um aumento na violência. “Falar sobre cultura, tradições, arte não é o que os grupos armados gostam. Eles limitam muito. É muito difícil realizar campanhas de conscientização, especialmente com a ideia de que se trata de afastar os jovens da violência.”

Para cada regra, é uma oportunidade para restaurar a sensibilidade humana perdida durante décadas de conflito. “A guerra deixou-nos todos doentes”, lamenta Montes. “Isso nos levou a naturalizar a violência e as tragédias de nossos vizinhos.” Por isso, vê a arte como uma “expressão sensível do ser humano” necessária para “voltar a ter empatia com o que foi perdido”, conclui.

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