novembro 26, 2025
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Nicolás Maduro deu os retoques finais à mobilização anunciada terça-feira em Caracas, uma demonstração de força com a qual o chavismo procurou mostrar unidade em meio à escalada das tensões com os Estados Unidos. Vestido com uniforme militar e rodeado pela liderança de seu governo e das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas, ergueu a espada de Simón Bolívar, emblema central do imaginário chavista. Debaixo do palco, milhares de seguidores gritaram em uníssono: “O homem da paz se chama Nicolau!”

A mobilização, anunciada no âmbito do 200º aniversário da entrega da espada ao libertador, levou às ruas milhares de venezuelanos, especialmente funcionários públicos, militares e polícias que constituem a principal base de apoio de Maduro. A mensagem que o chavismo procurou transmitir com esta marcha é uma resposta interna – para fortalecer a coesão do regime – mas também um sinal externo de desafio face à crescente pressão dos EUA. “O país exige de nós os maiores esforços e sacrifícios”, exclamou Maduro.

O líder da Venezuela, nomeado pela administração Donald Trump para chefiar o alegado Cartel do Sol, dirigiu-se às massas com uma mensagem que deixa clara a intenção do regime é a resistência. “Devemos estar unidos! É proibido fracassar neste momento decisivo para a existência da República. Não há desculpas para ninguém, seja civil, político, policial… Se o país exigir, o país terá nossas vidas se for preciso!” – ele enfatizou.

As ações do chavismo nas ruas contrastam com o genuíno apoio popular que tem. Os analistas estimam que cerca de 80% dos venezuelanos rejeitam agora o regime de Maduro, em comparação com 20% que ainda apoiam o chavismo.

Nas últimas semanas, Trump tomou inúmeras medidas na sua campanha de pressão contra o governo de Nicolás Maduro. Rumo à mobilização de enormes forças navais e aéreas em direção ao Caribe com o envio, entre outras coisas, do porta-aviões USS. Gerald R. Ford maior da Marinha dos EUA – foi anunciada uma nova fase de operações envolvendo intervenção indireta na região, que poderia incluir ações encobertas e ataques contra alvos associados ao tráfico de drogas. Diante destas pressões, o chavismo respondeu ativando todas as alavancas do poder interno. As autoridades venezuelanas declararam um estado de “preparação máxima”, mobilizaram as forças armadas, as milícias bolivarianas e intensificaram a sua retórica anti-imperialista. A repressão interna também se intensificou, afirmam grupos de direitos humanos.

Neste contexto, tem havido isolamento internacional do país, com suspensões de voos desencadeadas por um alerta da Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA) para “ter extrema cautela” ao sobrevoar a Venezuela e o sul das Caraíbas devido ao “aumento da actividade militar” na área. Esta medida foi interpretada pelo regime venezuelano como parte da “guerra psicológica” de Washington. “As mentiras e a estupidez de Marco Rubio cairão com ainda maior dignidade sobre este povo”, disse Diosdado Cabello, ministro do Interior e número dois de facto no governo venezuelano.

Maduro combinou o espírito de mobilização com uma narrativa de resistência. Do palco, rodeado de soldados e bandeiras, ele retratou o dia como um ato de defesa coletiva contra o que chamou de “ameaças ao império”. Ele nos convidou a ler os símbolos nacionais – a bandeira, a espada, a memória de Bolívar – como um lembrete de que o país estava passando por uma “agressão histórica” e precisava cerrar fileiras.

Referindo-se a Bolívar, traçou um paralelo direto entre a atualidade e as guerras de independência. Tal como o libertador enfrentou invasões e conspirações, argumentou Maduro, hoje a Venezuela será chamada a resistir aos avanços dos EUA. “O povo americano vencerá junto”, disse ele.

O presidente venezuelano retratou o chavismo como o último baluarte contra o destacamento militar de Washington nas Caraíbas e contra as sanções que, segundo ele, visam quebrar o governo a partir de dentro. A marcha, disse ele, deveria ser vista como uma demonstração de força, uma “resposta de unidade” a qualquer tentativa de dominação externa, uma espécie de lembrete visual de que a sua base política não tem intenção de recuar.