novembro 16, 2025
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Em meio a cantos, danças e murmúrios, três túmulos negros de cinco a sete metros de altura chegaram ao novo mercado de São Brasil, em Belém. Não faltavam viúvas ao seu redor, mas os presentes as aguardavam não com tristeza, mas com a esperança de que este funeral simbólico se tornasse realidade. Cada caixa tinha um nome: Gás, Carvão (carvão) e Óleo (óleo). Diante das estruturas gigantescas, uma jiboia, apoiada por uma dezena de pessoas, ziguezagueava de um lado para o outro e, guardando-a, uma fila de mais de 80 onças dominava as ruas da cidade amazônica.

Assim, esses animais simbólicos da Amazônia começaram a caminhar, abrindo caminho para mais de 50 mil participantes que, segundo os organizadores, participaram de um funeral por combustíveis fósseis. “Este é um ato simbólico, mas também uma mensagem política. Os negociadores da COP precisam de preparar o caminho para enterrar e destruir os fósseis de uma vez por todas”, afirma João Talocchi, cofundador da Energy Power Alliance.

Enquanto a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP30) ainda tenta discutir a transição energética, os povos indígenas e a sociedade civil já estão a enterrar três combustíveis fósseis nas ruas.

Passeio pelas flores

“Isto não é uma crise climática, isto é violência climática”, gritavam os manifestantes, referindo-se à extracção de petróleo nos seus territórios. Ao mesmo tempo, alguns incluíam frases como: “financiamento direto para a Amazónia”, “vamos alimentar o mundo sem destruir o planeta” e “2050 já está morto antes de chegar”, referindo-se ao ano em que se espera que a neutralidade climática seja alcançada no âmbito do Acordo de Paris e, portanto, um prazo potencial para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.

Outros tinham grandes cartazes simulando uma conta vencida, sugerindo recursos financeiros para combater as mudanças climáticas, bem como financiamento que se espera que vá diretamente para os povos indígenas, mas que ainda não é uma realidade.

“A arte mostra a transição de forma lúdica. Na frente vemos caixões, mulheres chorando e morte, demonstrando o fim da era fóssil, e no fundo temos uma representação artística desse futuro em cores”, explica Talocchi. Segundo ele, após as cerimônias de luto, a marcha foi vestida com cores diferentes, simbolizando uma transição energética justa, que é uma das principais reivindicações da COP30.

As máscaras, fantasias, caixões e elementos expostos no funeral foram confeccionados pela Escola de Arte, Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará, em Belém. “A COP vem para a Amazônia e a Amazônia vem para a COP”, acrescenta.

Apesar dos 33 graus Celsius na cidade amazônica, os manifestantes marcharam sem parar para descansar. À medida que os espectadores passavam, acenavam e tiravam fotos em varandas e restaurantes. Depois de quase 7 quilômetros, chegou o momento esperado.

“Esperamos que haja um roteiro claro para desinvestir nos fósseis e proteger a biodiversidade, a natureza e os nossos direitos”, disse Juan Carlos Jintiah, secretário executivo da Aliança Global de Comunidades Territoriais.

Por fim, a multidão enterrou os fósseis durante uma cerimônia. Após este evento, três túmulos foram erguidos fora da sede da COP30 como uma lembrança do que se espera no final destas negociações.