O juiz Manuel García Castellón, conhecido por processar alguns dos casos de maior repercussão das últimas décadas em Espanha e agora reformado, acaba de publicar um livro, Speak So It Be Known. Este percurso pela sua vida profissional é também aquele que … Isso serve de desculpa para conversar com ele sobre pecados mortais, se quiser.
-Eu te perdôo seu pecado.
-Bem, eu gosto muito de comer, adoro a culinária espanhola. Mas preciso me cuidar porque estou ficando velho e também tenho diabetes. A vontade é anti-pecado.
-Mas então é pecado perdoar não por obrigação, mas por desejo de fazê-lo.
-Bem, a diferença é que se antes eu comia dois pratos, agora como metade. Mas gosto deste ambiente.
-Você acabou de inventar o conceito de “meio prazer”.
-Isso é meio pecado.
-Qual é o mais difícil para você pedir desculpas aos outros?
“Isso em si não é um pecado mortal, mas não suporto mentiras.” Só permito isso em casos de extrema necessidade.
-Você pode me dar um exemplo disso?
-Quando você não pode contar a verdade a alguém porque pode ofendê-lo muito ou em situações de força maior.
“Só admito mentir em casos de extrema necessidade, quando não se pode contar a verdade a alguém porque isso lhe causará grande dor, ou em situações de força maior.”
-Isso também é quase um pecado que você não se permite?
– Sim, sobretudo porque vemos que em Espanha o exemplo são as mentiras estabelecidas pelas autoridades. Sou ainda mais cuidadoso. O filósofo francês Jean François Revel em seu livro “Conhecimento Inútil” disse que a primeira força que domina o mundo é a mentira.
– E estamos vendo isso hoje.
– O mais grave é que isso é feito a partir dos círculos de poder. Para mim, deixe uma pessoa privada fazer isso, porque pode não ser importante para mim.
-Você já mentiu por motivo de força maior? Um que eu possa contar?
-Eu disse então e posso contar agora, porque não tenho vergonha disso. Por ocasião do encontro que tivemos na França, quando lá estive como magistrado de comunicações para efetuar uma troca imediata de informações entre os dois países; Ou seja, quando uma pessoa próxima da ETA ou de um dirigente tinha documentos confiscados em França, esta informação era imediatamente transmitida à autoridade espanhola competente, e da mesma forma no sentido inverso. Este acordo seria assinado em Málaga no último ano do reinado de José María Aznar como Presidente do Governo e Jean-Pierre Raffarin como Primeiro Ministro de França. Para preparar esta reunião, realizámos uma reunião na Escola Judicial de Bordéus. Pedimos aos franceses que assinassem este documento porque houve muitas mortes lá, mas eles não quiseram assinar. Lembrei-me que em 2000 o prefeito da região foi assassinado na Córsega e que o assassino, Ivan Colonna, era o homem mais procurado de França. E blefei: disse-lhes que tínhamos notícias de que esse assassino estava na Costa del Sol e que se esse acordo não fosse assinado quando ele fosse preso, como ia ser, não poderiam contar com essa informação. E eles assinaram.
-Era sobre salvar vidas.
-Realmente. É isso que quero dizer quando falo sobre mentir por necessidade. Já fiz isso e farei de novo.
-Acho que o absolveríamos por isso.