dezembro 18, 2025
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Os migrantes são maioritariamente mulheres, muitas delas mães. Os trabalhadores da zona rural de Múrcia foram convocados para uma nova greve após meses de conflito laboral dentro da empresa. Espace Tecno Agrícola, SLdedicada ao “comércio atacadista de frutas e vegetais de todos os tipos”. A empresa, com sede em Ribarroja del Turia, Valência, também possui instalações na zona de Dolores de Pacheco, pertencente ao município murciano de Torre Pacheco. Esta é uma cidade que assistiu a uma onda de ódio racista e de violência contra os migrantes no passado mês de Julho, após o espancamento de um residente de 68 anos por um jovem de origem marroquina que tinha sido temporariamente libertado devido aos acontecimentos.

Foram os trabalhadores, e especialmente os trabalhadores ligados ao ramo Pachequera, que lançaram a convocatória de greve, que terá início esta sexta-feira e terá duração indeterminada. Eles fazem isso depois que a empresa “se recusou repetidamente a iniciar o processo de negociação” sobre as condições de trabalho.


Vizinhos de Torre Pacheco e cidades vizinhas durante protestos neste verão. GLORIA PINERO

No comité de greve, denunciam “irregularidades na natureza dos contratos, incumprimento das reivindicações dos trabalhadores permanentes despedidos, deficiências em segurança e saúde e desigualdades salariais”. Além disso, manifestam oposição à reorganização industrial da empresa, que, segundo os representantes dos trabalhadores, “está a ter um impacto negativo na força de trabalho”.

“Esta não é uma decisão improvisada, mas um último recurso depois de meses sem resposta”, dizem fontes do comité de greve. “Os trabalhadores pedem simplesmente que respeitem a lei e reconheçam os direitos que já existem no papel”, acrescentam.

Trabalhadores no limbo após vinte anos na empresa

Em 2007, Zara começou a trabalhar como funcionária permanente na Espace Tecno Agrícola, SL. A sua tarefa, que se realizava nos armazéns da empresa, era embalar os legumes recolhidos no campo por um salário de 8,40 euros por hora. Diz que até 2022, coincidindo com a reforma laboral que consagrou o contrato fixo intermitente como principal instrumento de cobertura do trabalho sazonal e ocasional, trabalhavam “durante todo o ano, exceto no mês de feriados”. Porém, tudo mudou no início desta década. A empresa decidiu que os mesmos trabalhadores que faziam a colheita também seriam responsáveis ​​pela preparação, embalagem e acondicionamento dos produtos agrícolas na própria fazenda. Isto levou a uma diminuição do volume de trabalho nos armazéns.

As vítimas, cerca de 80 trabalhadores, não foram chamadas de volta pela empresa durante dois anos – o que constitui a sua obrigação nos termos do artigo 16.º da Lei do Trabalho – facto que os levou a esgotar o subsídio de desemprego durante este longo período de inactividade, durante o qual, devido à forma de contratação, também não contribuíram para o sistema de segurança social.

Segundo elDiario.es, na região de Múrcia, perante uma situação de incerteza, a maioria dos trabalhadores pede o despedimento para poderem procurar trabalho noutro local, mas a empresa não está disposta a fazer esse trabalho. Assim, encontram-se no limbo do trabalho e sob a pressão de esgotar os benefícios com os quais durante todo esse tempo poderiam pelo menos sustentar suas famílias.


Trabalhadores agrícolas durante a embalagem. COO

Yusra, fábrica de conservas desde 2005, não compreende as desculpas dos gestores da empresa que afirmam que o problema é que não há trabalho para os armazéns: “Sim, há, mas preferem fazer no campo e poupar o dinheiro que nos pagaram”. Ahmed disse ser escandaloso que “a antiguidade e a experiência” não sejam respeitadas e condenou a falta de sensibilidade demonstrada pelos responsáveis ​​pelos recursos humanos nas suas reuniões. “Eles não se importam em nos deixar numa situação dramática”, lamenta.

Os editores tentaram, sem sucesso, obter a versão dos responsáveis Espace Tecno Agrícola, SL

Conflito relacionado à realidade estendida

Embora a greve seja uma resposta a uma situação específica, o seu contexto está ligado a um problema estrutural na zona rural de Múrcia: a insegurança laboral, que afecta particularmente os trabalhadores migrantes, muitos dos quais trabalham em condições extremamente temporárias e com protecção insuficiente.

Neste contexto, as organizações da sociedade civil estão conscientes de que a situação actual guarda claras semelhanças com as mobilizações que abalaram o sector agrícola em 2020, quando os sindicatos CC.OO, UGT e a Associação dos Trabalhadores Imigrantes Marroquinos (ATIM) denunciaram a exploração laboral e a discriminação sofrida pelos diaristas imigrantes.

Demandas repetidas

Os representantes da ATIM garantem que muitos dos requisitos então apresentados ainda são totalmente relevantes. “O que está a acontecer agora mostra que os problemas não eram específicos, mas sim estruturais”, explica a associação. “Já alertamos em 2020 que sem mudanças profundas no modelo de trabalho rural os conflitos se repetiriam.”

Na altura, a ATIM condenou os dias cansativos, as violações contratuais, a falta de medidas de segurança e a desigualdade sistémica entre os trabalhadores, especialmente no que diz respeito aos migrantes.


A insegurança no emprego afecta particularmente os trabalhadores migrantes

“O interior de Múrcia existe graças a pessoas que muitas vezes não têm voz. O nosso trabalho foi e continua a ser amplificar esta voz”, sublinha a organização.

Os representantes dos sindicatos e das associações alertam que a actual instabilidade na zona rural de Múrcia indica uma falta de soluções a longo prazo. Por isso, asseguram que “cada greve é ​​um sinal de alerta que nunca foi ouvido antes”, observa a ATIM. “Até que a instabilidade seja vista como um problema estrutural, os conflitos continuarão a surgir em várias empresas.”

Novo aviso para o setor e instituições

Greve por tempo indeterminado convocada pela comissão de trabalhadores Espaço Tecno Agrícola, SL, Foi levado ao conhecimento da direção da empresa e da Direção Geral do Trabalho do Ministério de Empresas, Emprego e Economia Social, sob a liderança da popular Maria Isabel López Aragon, e agravou a cadeia de conflitos que marcaram a última década na zona rural de Múrcia.

Os representantes da ATIM insistem que estas mobilizações representam um desafio não só para as empresas, mas também para as administrações públicas. “Não estamos a falar apenas de direitos laborais, mas também de dignidade, igualdade e convivência”, conclui a associação. “A aldeia não pode continuar a crescer devido à instabilidade daqueles que a apoiam.”

Referência