novembro 19, 2025
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Chucho Valdez (Havana, Cuba, 9 de outubro de 1941) é um daqueles artistas à prova de fogo que cria felicidade simplesmente ouvindo-o falar sobre a música – a imagem que a toca – à qual dedicou 81 dos seus 84 anos. É por isso que este é o único tópico que você deseja discutir. em entrevistas que concedeu de apoio à sua digressão por Espanha, que terá escala em Sevilha na próxima segunda-feira, 24 de novembro, num concerto no Centro Cartuja no âmbito do festival Insólito. Fazemos isso por telefone poucos dias antes de o filho de Bebo Valdez ganhar seu 14º Grammy, justamente pelo trabalho que está prestes a apresentar – seu “Cuba and Beyond” (InnerJazz, 2024). Incluía canções como “Tatomania”, “Mozart a la cubana” e “Armando & Rhumba”, sua homenagem pessoal ao pianista e amigo de longa data Chick Corea. Chucho Valdez, que toca piano, será acompanhado por José A. Gola (contrabaixo e contrabaixo elétrico), Roberto Jr. Vizcaino Torre (bateria) e Horacio Hernandez “El Negro” (bateria).

-Que temas podemos encontrar em “Cube and Beyond” e neste concerto? Ele diz que existem especiais.

– Sim, existem várias músicas muito interessantes, porque são dedicadas a diferentes gêneros da música cubana. Existem, por exemplo, versões de danson para a música de Mozart. É lindo. Há também um ponto cubano – a música camponesa cubana, mas transferida para o século XXI. Há também congas e boleros, mas tudo decorado em estilo moderno. Muito atualizado.

– Há também uma música dedicada a Chick Corea.

– Sim, para mim ele foi um dos maiores músicos de todos os tempos. E com quem tive a sorte de ter uma grande amizade e brincar juntos. Essa música se chama “Armando Rumba” em homenagem ao seu nome Armando Anthony Corea.

– Quando se trata de Chick Corea, a primeira coisa que vem à mente de muitos andaluzes é a sua colaboração com Paco de Lucia. Você também compartilhou com o guitarrista? Qual é a ligação entre a música cubana e o flamenco?

-Paco para mim é o ponto mais alto do flamenco, para mim e, creio, para o mundo inteiro. Paco é algo especial. E Chick Corea também adora flamenco. Tem até uma música que ele escreveu para ela chamada “Spain” mas tem elementos de flamenco e quando ela conheceu Paco era a melhor. Conheci o Paco, nos encontramos algumas vezes, mas nada mais.

-Perguntei-lhe porque é que o flamenco, afinal, é parecido com a música cubana, música com raízes. Você pensa nisso como mais uma peça musical para combinar com a sua?

-Sim, você lembra que meu pai fez “Black Tears”. E aí eu também participei, acompanhando o Sigala naqueles momentos que o pai não podia, eu também fiz. Também tenho um álbum muito bom com a Concha Buika, que também ganhou um Grammy.

– O que significa para você outra indicação e, em geral, o que significa receber prêmios e ser reconhecido?

– Acho que isso é uma confissão. Quando um álbum é indicado, ganhe ou não, a indicação é um prêmio porque de centenas de álbuns restam apenas cinco. Como você é um desses cinco, isso já é um prêmio, mas ganhá-lo é o melhor.

– A qualidade da música é medida pelo reconhecimento ou pelo número de discos vendidos? Porém, o setor mudou muito, certo?

-Sim, isso já aconteceu. Algumas coisas são muito relativas. Há coisas muito boas que passam despercebidas e também há coisas que se destacam. Tanto o marketing quanto as promoções também têm uma influência direta nisso. Não é normal.

-Claro, mas um artista do seu nível e com uma extensa carreira terá que se adaptar constantemente a esses caprichos da indústria.

-Não, isso não. Bom, eu trabalho na minha própria empresa e faço o que penso. Não tive tanto azar por não ter sido conduzido pelo caminho que você deseja. Isso aconteceu comigo há muito tempo.

– Mas você já sentiu tanta pressão?

– Às vezes, há muitos anos, surgiram propostas. Mas no geral tive sorte porque as ofertas atendiam aos meus interesses. E quando não, não fiz isso em vão. Eu disse não, pelo menos não posso fazer isso.

  • Onde: Centro Cartuja

  • Endereço: Albert Einstein, 7

  • Quando: 24 de novembro de 2026

  • Horário: 20h30.

  • Ingressos: Insolitoseville

– Você diz que já deixou o seu legado mais importante – “Criação”. A magnificência da obra fica evidente pelo título.

– Sim, a música afro-cubana é “Criação” porque é a obra mais completa, tenho obras muito boas como “Missa Negra”, “Shaka Zulu”, que são obras muito importantes, mas é semelhante a tudo que estudei e desenvolvi todos estes anos. Para mim, este é um trabalho que tem todos os elementos que trabalhei a 100%.

-Há quanto tempo você está trabalhando nisso?

-Trabalhei na obra por um ano e meio. Um ano e meio de escrita, pesquisa e prática. Mas ei, isso finalmente pode ser feito.

– E enquanto uma pessoa está envolvida em um trabalho desse nível, é possível alterná-lo com outra coisa?

-Me dediquei totalmente a isso porque veio a pandemia também. Em 2020 era impossível sair de casa e trabalhei o ano todo.

“Em Sevilha sempre senti aquele ambiente caloroso, amoroso e sincero que me inspira a continuar trabalhando”

-E voltou justamente ao palco de Sevilha, na Plaza de España. Como você se lembrou disso?

-A verdade é que o que me lembro daquele concerto foi mágico. Mas depois daquele concerto, todos os meus concertos em Sevilha foram maravilhosos, desde piano solo até quarteto. Em meados dos anos 90, estive também em Sevilha com Irakere. E sempre senti o carinho do público. É uma atmosfera calorosa, amorosa e sincera que me inspira a seguir em frente.

– Voltando aos tempos da pandemia, você era um dos que dava concertos através de ecrãs.

-Bom, era a única forma de levar alegria para as pessoas e ao mesmo tempo trazer sua música e contribuir. Esse momento foi muito interessante porque eu nunca havia tocado sem público antes. Me senti muito estranho porque joguei quase sozinho, sem espectadores, mas também foi uma ótima experiência.

-Porque? Isso tirou alguma coisa de você ou mudou seus planos?

– Não, me pareceu que ele estava tentando fazer algo musicalmente positivo para transmitir isso. Eu fazia isso todas as terças-feiras às 15h e tinha um teste muito, muito grande.

– Se a “Criação” é o seu legado e você tem 84 anos, o que pode fazer?

-Doces 84 anos de música, bom, 81, quando eu tinha 3 anos sentei ao piano. E estar perto do meu pai, Bebo Valdez. A trilha sonora da minha vida era a música. E o próximo grande projeto Chucho que vou iniciar no próximo ano se chama Orquestra Sinfônica Chucho Valdez. Ou seja, um concerto trazido à música sinfónica, mas com todas as raízes. Este projeto é enorme. A espiral nunca para, busca sempre o desenvolvimento.

-E enquanto o corpo aguentar, certo?

-Bem, graças a Deus, até agora está tudo indo bem, mas é claro que estarei por aqui enquanto meu corpo aguentar.