dezembro 2, 2025
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Mudo, mudo, surdo… Não há dúvida de que o bullying continua a ser um dos maiores problemas não resolvidos do sistema educativo espanhol, mas quando se trata de crianças em idade escolar com qualquer tipo de deficiência, o número aumenta dramaticamente. Assim, de acordo com os últimos dados recolhidos pelo Conselho Espanhol para a Proteção das Pessoas com Deficiência e/ou Dependências (SEDDD), oito em cada dez menores admitem ter sido vítimas de alguma forma de violência escolar. Nos centros educacionais regulares, esse percentual pode até ultrapassar 90%.

A perseguição a estes alunos com deficiência Isso pode se manifestar no ridículo da maneira como falam, andam, estudam… Também é comum vivenciar isolamento dentro do grupo, ataques físicos ou assédio digital através de redes sociais e sistemas de mensagens instantâneas. Em muitos casos, afirma o CEDDD, “a falta de apoio adequado ou a má formação dos professores pioram a situação”.

Evidências recentes sugerem que o risco de assédio também diminui ou aumenta dependendo do tipo de deficiência. Para as pessoas com deficiência, o número é de 26,9 por cento; pessoas com deficiência mental; 26,1 por cento, deficientes visuais – 17,5 por cento; pessoas que vivem com doenças mentais – 15,4 por cento, e pessoas com perda auditiva – 14,7 por cento.

O problema, como outros alunos, não se limita à sala de aula física. No ambiente digital, o cyberbullying assumiu novas dimensões. De acordo com pesquisas recentes, em 14% dos casos de cyberbullying, a inteligência emocional já é utilizada para manipular imagens ou personificar identidades, multiplicando os danos psicológicos e sociais das vítimas.

“Se você tem uma deficiência, o bullying é duplamente discriminatório”

Estes números, sublinha Mar Ugarte, vice-presidente do CEDDD, “são mais do que estatísticas: Eles representam uma infância destruídaos direitos são violados e as trajetórias educacionais são restringidas. E no caso dos menores com deficiência, o bullying assume um duplo carácter discriminatório, pois são alvo não só pelas suas diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, mas também pela invisibilidade social que ainda agrava a deficiência.

Porque a solidão destes menores, como observa Monica Mir, vice-presidente da Bestbuddies em Espanha, “é uma das manifestações mais destrutivas da perseguição. A verdade é que o sistema educativo enfrenta estas situações com recursos muito limitados. Os professores fazem-no o melhor que podem”, reflete. Isto é confirmado por Javier Lastra, Reitor do Colégio Oficial de Psicologia da Cantábria, para quem, do ponto de vista clínico, “os professores têm um compromisso inegável com a educação, mas não possuem ferramentas suficientes para lidar com situações difíceis”.

“Com boas intenções, esses menores não estão incluídos.”

Por isso, enfatiza Juan Cristóbal Cabiedas Pedraza, líder da equipe do Plano Diretor de Convivência e Melhoria da Segurança em Centros Educacionais e Seus Ambientes, “é extremamente importante capacitar os professores para identificar todas as formas de assédio. Nem tudo é destruído pela violência física, o assédio psicológico também destrói”.

Invisibilidade social

Neste contexto, segundo Mir, “o que não se pode pedir às famílias é que transformem os seus filhos em porta-estandartes. Para os pais, a decisão de escolher um centro de educação especial é muito difícil. Para Ugarte, há uma necessidade urgente de “atualizar os protocolos anti-assédio para incluir explicitamente uma variável de deficiência e garantir que sejam aplicados uniformemente em todo o território”. Também são necessárias uma activação rápida, um acompanhamento mensurável e consequências jurídicas, quando apropriado. Também é importante o fortalecimento concreto do corpo docente, dos alunos e das famílias nas questões de convivência, acessibilidade e atendimento precoce.

Mas, segundo o vice-presidente do CEDDD, “por boas intenções esses menores não estão incluídos. A perseguição a este grupo deveria ser uma prioridade na agenda educacional e social. Não basta reconhecer o problema: é preciso agir com decisão, utilizando leis eficazes, protocolos claros e formação especializada para garantir profissionais capacitados. A deficiência não pode continuar a ser uma causa de exclusão, mas sim um valor que enriquece as nossas salas de aula e a nossa sociedade”, conclui Ugarte.