E se administrar Xanax a meio paciente antes de uma pequena cirurgia ocular fosse qualificado como um serviço de anestesia do Medicare?
Foi exactamente isso que aconteceu depois de uma decisão do Tribunal Federal de 2018 que redefiniu os “serviços de anestesia”, e os contribuintes ainda pagam a conta.
E se administrar Xanax a meio paciente antes de uma pequena cirurgia ocular fosse qualificado como um serviço de anestesia do Medicare?Crédito: imagens falsas
O oftalmologista de Sydney, Dr. Andrew Chang, realizou procedimentos oculares delicados, como injeções intravítreas, onde uma agulha fina é colocada no olho para injetar ou remover fluido. Aplicavam-se dois itens do Medicare: para procedimentos sem serviços de anestesia, e outro, que pagava 60 a 70 por cento mais, para procedimentos que os exigiam.
A clínica do Dr. Chang rotineiramente cobrava o item mais bem pago depois que os pacientes receberam um único comprimido de 0,25 mg de alprazolam (Xanax) cerca de meia hora antes. Não houve anestesista, nenhum acompanhamento ou avaliação se o paciente precisava de medicação para tolerar o procedimento ou quais poderiam ser os riscos individuais ao tomar a medicação.
Quando a seguradora Bupa contestou as ações, a Justiça Federal (e mais tarde o Tribunal de Apelações) ficou do lado do médico. A disputa girou em torno de uma questão de interpretação jurídica: o que significam as palavras “exigir serviços de anestesia”?
A Justiça Federal assumiu uma postura ampla: qualquer medida calmante ou sedativa, em qualquer dose, por qualquer via e por qualquer médico, poderia contar. Essa interpretação estava errada.
De acordo com o Colégio de Anestesistas da Austrália e Nova Zelândia, anestesia significa medicação destinada a produzir sedação, anestesia regional ou geral, administrada por um médico qualificado para facilitar um procedimento que de outra forma causaria “angústia ou desconforto excessivo” se realizado sem a medicação. Uma ordem permanente de Xanax, oferecida a cada paciente sem avaliação individual, falha nesse teste. Dar a alguém uma dose baixa de Xanax antes das injeções oculares é como oferecer-lhe um copo de vinho antes de uma obturação dentária: calmante, talvez, mas não analgésico e não necessariamente necessário.
O problema foi agravado pela ausência de alguém no tribunal que entendesse o faturamento do Medicare. De acordo com as próprias regras do Medicare, um médico não pode atuar como cirurgião e anestesista na mesma reclamação. O sistema rejeita automaticamente tais reivindicações com “Código 171 – Benefício não pagável: o provedor só pode atuar em uma capacidade”. Essa salvaguarda existe porque, clínica e legalmente, uma pessoa não pode desempenhar as duas funções ao mesmo tempo.
Se um especialista em cobrança tivesse fornecido provas, o resultado poderia ter sido diferente. O tribunal parecia convencido de que tratar a ansiedade de um paciente antes do procedimento era um serviço anestésico. Mas o MBS não é um guia para conduta à beira do leito; é um conjunto de leis que vinculam o pagamento a ações específicas e clinicamente definidas. Equiparar um comprimido de Xanax a um anestésico é como dizer que diminuir a intensidade das luzes equivale a realizar uma cirurgia a laser porque ambos deixam o paciente confortável.