El País informa que o julgamento da morte de dois militares durante manobras na base de Cerro Muriano entra numa fase chave. O Ministério Público Militar acusou dois militares do Exército pelos acontecimentos ocorridos em 21 de dezembro de 2023, quando um exercício de treinamento terminou com o afogamento de dois soldados.
O caso está sob jurisdição militar espanhola e está a ser julgado pelo Tribunal Militar Central, órgão responsável pela condenação dos comandantes superiores. A acusação especifica responsabilidade criminal específica e exclui, pelo menos por enquanto, acusações contra outros oficiais superiores.
Acusação de prisão
O Ministério Público pede oito anos de prisão para o capitão encarregado do exercício e cinco anos para o tenente no comando direto da unidade em questão. Ambos são acusados de dois crimes contra a eficiência que resultam em morte, o que, segundo o Código Penal normal, equivale a homicídio culposo por negligência.
Além da pena de prisão, a acusação pede uma indemnização conjunta para os familiares das vítimas no valor superior a 420 mil euros. O Departamento de Defesa atua como uma parte civil de apoio, o que significa que assumirá o pagamento se os condenados não puderem fazê-lo.
Âmbito penal do crime de guerra
Segundo o promotor, o comportamento do réu não se limita a um erro específico. O documento descreve uma cadeia de decisões tomadas sem as verificações de segurança necessárias para implementar estas características, o que teria aumentado significativamente o risco para os soldados envolvidos.
Gerentes seniores não indiciados
Um dos aspectos mais polêmicos do caso é a exclusão de oficiais de alta patente da responsabilidade criminal. O Ministério Público não vê crime na atuação do tenente-coronel e do comandante, que eram hierarquicamente superiores aos acusados diretamente.
Apesar disso, ambos permanecerão no banco enquanto as famílias das vítimas apoiam um processo privado. Durante a fase de investigação, outros criminosos já haviam sido reabilitados, incluindo um coronel e um suboficial, o que gerou acalorado debate sobre a divisão de responsabilidades dentro da estrutura militar.
Cadeia de comando em foco
O processo judicial traz mais uma vez à tona uma questão recorrente em incidentes militares: até que ponto a responsabilidade criminal se estende dentro de uma organização estritamente hierárquica. O procurador acredita que decisões críticas foram tomadas a um determinado nível e que não existem provas suficientes para apresentar acusações a níveis superiores.
Exercício improvisado sem garantias suficientes
O relato dos acontecimentos incluídos na acusação é particularmente duro para o planeamento do exercício. Segundo o promotor, o capitão não informou adequadamente seus superiores sobre as reais condições das atividades e não detalhou os riscos específicos da próxima manobra.
O exercício consistia em atravessar um lago usando uma corda, que deveria servir de guia. No entanto, a corda foi colocada num local onde os soldados não podiam ficar de pé e não se destinava a servir como elemento de apoio em caso de inundação.
Carga excessiva e baixa temperatura da água
O tenente acusado teria permitido que os militares continuassem carregando nas mochilas materiais de treinamento com peso superior a três quilos. Segundo a investigação, esta carga adicional dificultou a flutuação em águas cuja temperatura era de cerca de oito graus.
Vários depoimentos recolhidos durante a investigação alertavam que o ponto de passagem escolhido era perigoso. Apesar disso, o exercício continuou sem alterações significativas.
Cena caótica sem resposta imediata
O desenvolvimento da manobra levou rapidamente a uma situação de caos. Os soldados moviam-se com dificuldade pelo fundo lamacento, com galhos e superfícies irregulares, e alguns começaram a pedir socorro.
O promotor descreve um cenário em que tudo o que era visível eram cabeças subindo e descendo na água, soldados tentando se conter e ordens conflitantes. Como resultado, dois soldados morreram afogados sem poder intervir a tempo.
Atraso na saúde
Além dos dois que morreram, outros militares sofreram de hipotermia e necessitaram de internação. No momento do incidente, não havia ambulância na área, pois estava ocupada com outros exercícios, circunstância previamente conhecida pelo comando responsável.
A chegada dos serviços médicos ocorreu em poucos minutos, o que também faz parte da análise forense das condições de segurança do exercício.
Litígio que tem consequências além do âmbito do caso específico
O processo, que agora se aproxima de um julgamento oral, não determinará apenas a responsabilidade criminal dos dois agentes. Poderia também estabelecer um precedente para os padrões de segurança exigidos no treino militar e no controlo eficaz de manobras arriscadas.
Enquanto as famílias das vítimas aguardam por justiça, o Exército enfrenta o escrutínio público que questiona os procedimentos internos, os protocolos de segurança e a forma como monitoriza as atividades de treino. A decisão do Tribunal Militar Central marcará um “antes” e um “depois” na gestão deste tipo de exercício.