dezembro 5, 2025
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Há quem pense que o facto de Bad Bunny voltar a ser o artista mais ouvido do mundo é uma piada musical. Ou um sintoma do gosto das novas gerações. Ou estranheza algorítmica. Na verdade, este é um sinal económico em todos os normalmente um que deve ser interpretado com a mesma seriedade com que os PMIs ou os relatórios de lucros do Vale do Silício são analisados. A economia do século XXI já não é explicada pelos bancos centrais: é explicada pelo Spotify.

Porque o sucesso de Bad Bunny não é um fenómeno isolado, mas uma demonstração viva de como funciona a economia da atenção, aquela nova ordem mundial onde os recursos escassos não são dólares ou barris de petróleo, mas sim os minutos que cada pessoa dedica a uma música, vídeo ou rede social. E neste mercado – mais implacável do que qualquer outro oligopólio – o porto-riquenho conseguiu o que os reguladores europeus tentaram sem sucesso durante anos: dominar um ecossistema dominado por gigantes norte-americanos, algoritmos opacos e enormes preconceitos linguísticos a favor da língua inglesa.

O domínio de Bad Bunny revela duas tendências econômicas profundas. Primeiro, as plataformas perturbaram a geografia do consumo. O espanhol, durante décadas considerado uma língua de nicho nas indústrias culturais mundiais, está agora a entrar na linha da frente da distribuição de rendimentos sem pedir permissão. Isto é mais do que um triunfo latino, é um lembrete: quando o mercado já não é mediado por poderosos intermediários analógicos, a procura real emerge sem complexos.

A segunda tendência é ainda mais interessante. O grande sucesso não depende mais do gosto mediano, mas da capacidade de conduzir uma conversa digital. Num ambiente onde a gratificação é imediata e a oferta é infinita, predominam aqueles que conseguem criar uma narrativa contínua, quase industrial, sobre si mesmos. E aqui Bad Bunny não é tanto um artista, mas uma máquina de produção significativa. Um agente econômico que entende que na era da atenção é importante não soar bem, mas soar constantemente.

Há um terceiro elemento, mais inconveniente: a desintermediação do poder cultural tem consequências políticas. Se um artista latino pode mudar as preferências globais sem pôr os pés em Los Angeles, o mesmo pode acontecer com qualquer interveniente político, mediático ou económico. O controlo da agenda, aquela velha obsessão dos governos e dos meios de comunicação, já não se exerce em conferências de imprensa, mas em algoritmos que decidem o que ouvir, o que ver e o que esquecer. E esses algoritmos vivem em outro país.

A coroação anual de Bad Bunny não diz nada sobre o futuro da música, mas diz muito sobre o futuro da economia. Num mundo onde a atenção é a nova moeda, os vencedores serão aqueles que aprenderem a captar e manter uma perspectiva global. O resto continuará cantando no chuveiro. jmuller@abc.es