dezembro 29, 2025
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Moro sozinho em uma casa de oitenta metros. Tenho um micro-ondas que nunca uso, uma coleção de andorinhões de cerâmica, dois papagaios azuis que minha amiga Paula me deu e um computador do qual não posso abrir mão. Também cerca de mil e quinhentos livros. Bom O item está distribuído em quatro prateleiras. O resto está nas torres. Há também exemplares guardados em armários, debaixo da cama e em malas que esqueci de abrir. Faltam dois dias para o final do ano. Meu amigo, jornalista e historiador Guillermo Ramos Flamerich, tenta me convencer: “Encomende uma biblioteca”. “Criar arquivo.” Eu posso ouvir isso.

Alguns dias depois decido entrar no estúdio e limpar a bagunça. Ainda, Borges isso está certo. Organizar uma biblioteca é uma forma de fazer crítica literária. Os livros que guardo não são todos aqueles que me fizeram. Eles ficam “Metamorfoses” Antígona de Ovídio e Sófocles. E Steiner, e Maria Zambrano, e Bergamina. A poesia de Borges está toda em diferentes edições. E também “Novelas Exemplares” ou petiscos de Cervantes. Eles estão muito próximos, à mão. Tão próximo quanto os romances de Thomas Bernard e o quintessencial Thomas Mann. Não sinto falta de Sylvia Plath. Acho que lidei com isso como um porco. Dela. Já Virgínia Woolf.

Sinto falta do meu padre e do meu cabeleireiro para dar uma olhada na minha biblioteca. Há livros que adoecem, envelhecem e perdem o frescor. Ou talvez seja eu quem mudou. Santa Teresa está me chamando. Está aqui, bem aqui. E Rulfo, cujo trabalho, embora esparso, ressoa em mim. Javier Marias está exposto nas mais famosas estantes dos mestres junto com NAtalia Ginsburg, Patricia Highsmith e J.M. Coetzeeimperecível, versátil e sempre um escritor perfeito quando se trata de descer aos esgotos da raça humana. Filipe Roth E José Rothguardiões de tudo que é importante e duradouro. Faltam dois dias para o final do ano e estou tentando fazer um milagre – limpar a biblioteca – isso não vai acontecer.

Referência