A libertação da prisão do ex-governador de Veracruz, Javier Duarte, está se tornando um sonho distante. Dado que a pena de nove anos que lhe foi imposta por um juiz por corrupção expira em Abril de 2026, a Procuradoria-Geral da República (FGR) apresentou uma nova acusação contra o político do PRI por alegadamente desviar 10 milhões de pesos do tesouro de Veracruz durante o seu mandato (2010-2016). É a primeira de uma série de novas acusações de uso indevido de recursos governamentais que os promotores apresentarão aos juízes. A equipa de defesa do antigo governador alertou para uma reprimenda do partido no poder por não ter concedido a Duarte a elegibilidade para libertação antecipada em Novembro passado. Essa demanda causou acalorada polêmica nos meios políticos e acionou o Ministério Público quando ainda era chefiado por Alejandro Herz. No governo federal, eles negam que a medida vise impedir o ex-presidente de deixar o cargo e apontam para o enorme desperdício que ele infligiu ao seu estado.
O EL PAÍS informou com exclusividade que Duarte, encarcerado na Prisão Norte da Cidade do México desde 2017, pediu libertação antecipada depois de cumprir mais de 70% de sua pena por crimes relacionados à lavagem de dinheiro e atividades de gangues. As audiências judiciais para decidir sobre a concessão desse benefício, previsto em lei para qualquer condenado, começaram no dia 3 de novembro e terminaram no dia 21 do mesmo mês, quando a juíza federal Angela Zamorano indeferiu o pedido. O argumento do juiz foi que Duarte tem outro processo pendente no qual é acusado de supostamente obstruir uma investigação sobre um desaparecimento forçado. Esta resolução obrigou o político de Veracruz a aguardar na prisão o cumprimento normal da sua pena, que está previsto para meados de abril do próximo ano.
Contudo, ao mesmo tempo que a FGR lutava ferozmente pela libertação provisória de Duarte nos tribunais, a FGR mudava de posição numa nova frente. Através da Procuradoria Especializada Anticorrupção, pediu ao governo da Guatemala – país que extraditou Duarte em 2017 – que lhe concedesse autoridade para acusar o ex-presidente de crimes além daqueles pelos quais foi entregue diretamente ao México. Desta vez, o Ministério Público vai acusar Duarte de peculato por alegada utilização indevida de recursos federais destinados ao setor da saúde. Em volta e isso foi confirmado de forma independente pelo jornal a partir da defesa do ex-presidente e de fontes do governo federal. O valor concedido para esta primeira acusação é de cerca de 10 milhões de pesos, mas esse número aumentará à medida que os promotores apresentarem mais casos aos juízes em outros casos pendentes de uso indevido de recursos, segundo fontes consultadas.
Pablo Campusano, advogado de Duarte, observa em entrevista que o pedido do FGR à Guatemala foi enviado em 19 de novembro, quando a juíza Zamorano ainda não havia terminado de decidir se concederia liberdade antecipada ao ex-governador. Segundo o advogado, a resolução do país centro-americano foi aprovada no dia 26 de novembro. No dia seguinte, o novo juiz convocou uma audiência de acusação, confronto em que os promotores apresentariam novas acusações contra Duarte. No entanto, segundo fontes federais entrevistadas, o político do PRI enviou uma carta avisando que estaria ausente por motivos de saúde, pelo que a audiência não se realizou e teria de ser remarcada (ainda não foi marcada data). “Esta é uma tentativa desesperada de impedir a sua saída. Para nós, é uma punição pelo exercício do direito (de pedir a libertação antecipada)”, explica Campuzano.
Segundo o advogado, a nova denúncia do Ministério Público indica que após a transferência de recursos federais pelo Tesouro para Veracruz, eles foram transferidos por funcionários de Duarte para uma “conta central” não destinada a esses fins. Campusano garante que embora o envio desses fundos para contas diferentes “seja ilegal, não é crime, pois foram utilizados no interesse do Estado e não do indivíduo”. Os promotores incluíram o ex-governador e outros ex-funcionários financeiros na acusação, incluindo Tareq Abdala, que foi tesoureiro de Veracruz e agora serve como testemunha do FGR. No caso específico de Duarte, o advogado destaca que ele é acusado de um decreto que autorizou o uso de recursos federais para pagar servidores públicos. Campusano insiste, porém, que o dinheiro nunca foi utilizado. O Ministério Público indica que houve desvio de recursos.
A liderança de Duarte em Veracruz deixou uma das maiores lacunas financeiras da memória recente. Não está claro onde foram gastos os 60 bilhões de pesos. Isto faz de Duarte um dos maiores expoentes da corrupção política do PRI durante a era de Enrique Peña Nieto. Apesar da mudança de titularidade do departamento, a nova procuradora Ernestina Godoy decidiu dar continuidade ao caminho traçado Caso Duarte Hertz, seu antecessor na FGR. À luz do bloqueio estabelecido esta semana em torno de outro ex-governador do PRI acusado de corrupção, Cesar Duarte de Chihuahua, há sinais de que o promotor Godoy endurecerá os casos em que os principais envolvidos ainda não terminaram de prestar contas à justiça.