Nos últimos anos, surgiu entre os jovens um fenómeno notável: uma sede de espiritualidade que o consumismo e o materialismo não conseguiram saciar. Esta sede não é temporária ou superficial; Esta é uma necessidade forte e profunda que muitas vezes se manifesta em … maneiras inesperadas. Exemplos proeminentes incluem filmes como Los Domingos, o novo álbum de Rosalía e o recente livro de Byung-Chul Han sobre Deus, inspirado no pensamento de Simone Weil.
No entanto, este não é apenas um conceito de Deus. Os jovens de hoje não são atraídos pela caricatura de Deus que tantas vezes criamos nas nossas mentes, incluindo alguns cristãos. Esta imagem de um Deus omnipotente mas justo, vingativo e impiedoso, que serve apenas a satisfação de interesses egoístas, é insatisfatória e problemática. Este tipo de divindade não é digna de crença; desde o início, porque representa uma fonte de conflitos internos e externos. A própria razão me leva a rejeitar um Deus que não pode ser o Deus verdadeiro.
Certa vez perguntaram a Madre Teresa o que ou quem era Deus para ela. Sua resposta foi clara e comovente: “Deus é amor e Ele ama você. Somos preciosos para Ele. Ele nos chamou pelo nome. Nós pertencemos a Ele. Ele nos criou à Sua imagem e semelhança para grandes coisas. Deus é amor, Deus é alegria, Deus é luz. Deus é verdadeiro.”
O Apóstolo São João, na sua primeira epístola, escreveu em letras ardentes: “Deus é Amor”. Esta afirmação não é apenas uma afirmação teológica; Esta é a própria essência da divindade. A natureza de Deus é definida pelo amor. Tudo ao seu redor é amor. Qualquer que seja a abordagem filosófica ou teológica que escolhamos, ao aproximarmo-nos de Deus, inevitavelmente encontramos o mesmo mistério incompreensível: Deus, o criador de todas as coisas, é Amor. Este é o maior mistério que Deus poderia nos revelar.
A principal consequência desta verdade é que viver é participar do amor de Deus. A vida é amar e ser amado, dar amor e receber amor. Assim, a eternidade se torna um convite ao amor eterno. Este amor divino, como bem explicou Bento XVI na sua imortal encíclica Deus caritas est, manifesta-se em duas dimensões: eros e ágape. Estes são dois lados da mesma realidade amorosa.
Eros é entendido como um amor possessivo e violento, um amor que desce do alto, que se manifesta nas experiências espirituais de inúmeras pessoas ao longo da história, como Paulo de Tarso, Agostinho de Hipona, Francisco de Assis, Hildegarda de Bingen, Mestre Eckart, Boaventura, Inácio de Loyola, Teresa de Ávila, João da Cruz, Blaise Pascal, G. K. Chesterton, Pavel Florensky, Charles de Foucault, Edith Stein, Thomas Merton, Padre Pio de Pietracina, Josemaría Escrivá, Harold Berman ou Madre Teresa de Calcutá e muitos outros. Ágape, por outro lado, é um amor altruísta e altruísta que busca o serviço e o bem-estar dos outros.
A escritora contemporânea Simone Weil escreveu extensivamente sobre suas experiências espirituais em seus diários e ensaios. Num dos seus contos, ela fala de uma experiência maravilhosa que teve durante uma curta viagem a Assis, em 1937. A filósofa diz: “Ali, sozinha, na pequena capela românica de Santa Maria degli Angeli, do século XII, um incomparável milagre de pureza, onde São Francisco tantas vezes rezou, algo mais forte do que eu forçou-me a ajoelhar-me pela primeira vez na minha vida”.
Criados à imagem de Deus, os humanos também são capazes de amar a Deus através do eros e do ágape, unindo um corpo mais ligado ao eros e uma alma mais ligada ao ágape. Eros sem ágape pode facilmente transformar-se numa paixão cruel, num movimento impessoal que procura apenas o seu próprio prazer. Pelo contrário, ágape sem eros torna-se amor frio, desprovido de emoções e sentimentos; Este é o amor que se impõe pela vontade, mas não surge das batidas profundas do coração.
A fé num Deus que é amor infinito, que encarna tanto o eros como o ágape, alimenta o desejo humano de partilhar esta realidade transformadora. Assim, o sentimento do amor de Deus promove a solidariedade nas pessoas, estimula a compaixão e o perdão e aumenta o respeito, a tolerância e a empatia pelos outros. Além disso, promove bondade, generosidade, conforto e esperança. Portanto, a fé em Deus, que é amor, é transformadora. Como disse Unamuno, o grande buscador de Deus, através da fé “recebemos a essência da verdade”, assim como “através da razão recebemos a sua forma”.
Esta crença em Deus-Amor influencia, em última análise, a forma como as pessoas se relacionam consigo mesmas, com os outros e com o mundo ao seu redor. Também afeta a própria estrutura da sociedade. Uma sociedade que, em plena proteção da liberdade religiosa, se abre à existência de um Deus-Amor, assenta sobre bases mais sólidas do que aquelas que se declaram agnósticas, ateus, ou que criaram um deus mental como o sucesso, a sorte ou o prazer.
Se Deus é amor, então onde há amor, há Deus. Portanto, uma pessoa que ama, mesmo que negue Deus em sua mente e declare sua inexistência em todos os quatro lados, não é na verdade um ateu. Ele simplesmente ainda não encontrou Deus com sua mente nem recebeu o dom da fé. Ele não permitiu que Deus o tratasse como filho. Pelo contrário, quem se distancia a ponto de renunciar ao amor, mesmo que acredite razoavelmente em Deus e tenha sido iluminado pela fé em algum momento, afasta-se de Deus e aproxima-se da raiva, da crueldade e do ódio. Este fenómeno também pode ser observado em famílias, grupos humanos, sociedades e culturas inteiras. As guerras nos confirmam isso.
A busca de um Deus pessoal que seja Amor é um anseio profundo e constitutivo do homem. Este amor não só transforma a vida dos indivíduos, mas também tem o poder de transformar comunidades inteiras, criando um mundo mais solidário, compassivo e esperançoso. Construir uma sociedade como se houvesse um Deus-Amor é uma questão que deveria estar na agenda dos políticos, de todos os políticos que querem levar a sério a construção de uma sociedade pacífica e sustentável.