novembro 14, 2025
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O diretor Rodrigo García Barcha (Bogotá, 64) está fazendo isso de novo com a Netflix. Depois da estreia há dois anos Família Nesta plataforma, o diretor retorna ao serviço de streaming com Loucuraum filme que investiga as emoções humanas quando elas são levadas ao limite. Rodrigo García aborda a saúde mental através de seis histórias de mulheres marcadas pelos seus demônios interiores, mas também sujeitas ao estresse do confinamento, da autocensura e da pressão social e familiar. O diretor repete isso com a atriz Cassandra Ciangherotti, que protagoniza a primeira de seis histórias que se cruzam inesperadamente em um dia chuvoso na Cidade do México. Nesta entrevista, Garcia fala sobre seu novo filme, que estreia na telinha no dia 10 de novembro.

Perguntar. O que o inspirou a contar esta história de saúde mental em formato de seis histórias?

Responder. Dois temas se juntaram: a experiência de conviver com amigos que tiveram episódios de mania bipolar e a constatação de que, apesar da doença, ele tinha muita velocidade, muita inteligência, muita criatividade, muito carisma e senso de humor. Eu estava interessado nisso, e depois me interessei por pessoas inteligentes, completas e com altas qualidades profissionais, que podem enlouquecer e ter ataques de insanidade, e não literalmente de natureza médica, como Renata (interpretada por Ciangherotti), mas ataques de incontrolabilidade.

PARA. Como você se preparou para recriar histórias como essas?

R. Tive experiência porque tenho amigos que passaram por isso. Eu os vi vividamente e diretamente. Depois fiz as pesquisas habituais: assisti entrevistas, documentários, li livros e consultei psiquiatras que leram o roteiro e viram as versões editadas. Então, claro, a atuação de Cassandra é, na minha opinião, muito marcante, e que chega àquele espaço da mania bipolar que pode ser não só um comportamento divertido, mas até engraçado, sem sentir que estamos banalizando a doença.

PARA. Você acha que a saúde mental ainda é um tema tabu no cinema?

R. Acho que é menos tabu. Já passamos dos tempos em que mal se falava sobre isso ou se falava com vergonha; tanto sobre sua própria saúde mental quanto sobre doenças que um membro da família possa ter. E também o medo de que as crianças consigam. Passámos da negação para sermos mais abertos na abordagem desta questão porque estas são doenças e não deveriam ser motivo de vergonha.

PARA. Este filme poderia ser um alerta para uma discussão mais aprofundada sobre este tema?

R. A verdade é que não sei. Como diretor, talvez num sentido privilegiado e superficial, estou apenas interessado em garantir que o filme não seja apenas divertido, mas que as pessoas sintam que ele reflete a vida, que possam se identificar com o que estão vendo, que o filme pareça humano. Agora, se por acaso também te ajudar a entender que uma pessoa doente como a Renata é uma pessoa igual a você, isso também vai ajudar muito.

PARA. Por que você decidiu focar a história na vida dessas seis mulheres?

R. Sempre gosto não apenas de contos que começam com um problema e se movem muito rapidamente em 20-25 minutos, criando uma situação, um desfecho dramático ou emocional. Gosto muito do formato curta-metragem, assim como do filme ensemble, que faz uma espécie de entrelaçamento de várias vidas, que ao trabalhar dá uma sensação de muita riqueza e de muitas vidas vividas.

PARA. Foi difícil garantir a coerência estética e emocional no entrelaçamento destas histórias?

R. Isso é sempre uma preocupação: quando se faz um filme com múltiplas histórias, há sempre o risco de umas serem mais apreciadas do que outras, de haver sempre uma melhor, de haver sempre um patinho feio. Além disso, os curtas se juntam para formar um filme, o que significa que parece que tudo faz parte de um todo coeso, em vez de como se você estivesse assistindo a um festival de curtas-metragens uma noite.

PARA. A Cidade do México é outro personagem principal desta história. O que fez você decidir desenvolver um filme ambientado em uma cidade grande?

R. Trabalhei fora do México por muitos anos no meu filme anterior. Famíliarepresentou um retorno ao México, e me senti realmente em casa, muito ligado à cultura não só do trabalho, mas do local, dos atores, dos técnicos. Então eu ansiava por isso depois Família, que fizemos isso no Valle de Guadalupe para filmar o filme na Cidade do México, cidade onde cresci. Gostei muito de interagir com esta cidade, que é fascinante, cansativa, interessante e caótica ao mesmo tempo.

Trailer do filme “Loucura”.Vídeo: Netflix

PARA. Ele apresentou o filme no Festival de Cinema de Morelia. Como foi a recepção?

R. Eu acho que é muito bom. Um dos benefícios de ser diretor é que ninguém chega até você e diz: “Seu filme é uma merda”. Eu fui salvo disso. No geral, acho que foi muito benéfico pelo que vi online, pelo que as pessoas me enviaram.

PARA. O filme vai estrear na Netflix. O que significa para você o fato de ele estar sendo lançado em um serviço de streaming?

R. Haverá um lançamento limitado nos cinemas no México, o que é uma coisa boa. É claro que todos nós, cineastas, gostaríamos de ver mais filmes exibidos nos cinemas, mas por outro lado, o alcance da Netflix é incrível, ou seja, 190 países. Mesmo com um sucesso modesto, será visto por milhões de pessoas. Quero dizer, estou grato que tantas pessoas vejam isso. Por outro lado, o filme foi feito pela Netflix. Quero dizer, se eles não tivessem feito isso, eu provavelmente não teria conseguido, porque filmes como esse são difíceis de financiar. Por outro lado, mesmo estando em menos cinemas do que eu gostaria, talvez se eu não tivesse feito dessa forma, não teria conseguido.

PARA. Vamos falar sobre a questão do financiamento. Tem havido muita controvérsia sobre os cortes ocorridos no setor cultural nos últimos seis anos. Isso torna mais difícil fazer filmes no México?

R. É difícil fazer filmes em todos os lugares. É verdade que a cultura foi cortada, suponho que por questões orçamentais, mas arranjar dinheiro é sempre muito difícil, e mesmo que se encontre dinheiro, distribuí-lo é muito difícil. Ou seja, o cinema é um sonho constante e global. No México, os tempos são difíceis, os tempos são mais difíceis para a produção, mas fazer filmes é muito aventureiro, economicamente caro e arriscado. Acho que isso não é novo. Quer dizer, tenho falado sobre a crise do cinema desde o início.