dezembro 31, 2025
prisionia-sara-silva-U20560618165zTf-1024x512@diario_abc.jpg

Seu pai dirige o famoso Circo dos Horrores há dezoito anos e agora, embora continue dirigindo, ela assume seu papel no palco. A feira se modernizou, abraçou a tecnologia e deu ênfase ao Num ponto de vista mais feminista, Sarah Silva é agora a mestre de cerimónias, que, ao desempenhar o papel de Azul e mergulhar na Prisão, nos faz pensar no destino a que a inteligência artificial nos está a levar. E em conversa com a ABC, ele nos conta como começou no circo, se já pensou em fazer outra coisa, se sente pressão para cumprir as exigências do pai e como estão sendo as primeiras apresentações dessa nova era para sua família:

– Sara, como você está? Como vão as primeiras semanas da Prisão?

– Bom, ficamos lá duas semanas e já estamos com algum ritmo, a verdade é que agora estou mais tranquilo. É verdade que no começo foi difícil para mim deixar meu pai subir no palco, sempre compartilhamos tantos momentos e tínhamos essa conexão, mas olha, agora ele saiu das sombras e está olhando para tudo.

– Então essa também não é uma mudança tão radical. Ele vai fazer uma turnê com você?

R: Ele vai vir, vai, vai nos controlar de fora, mas não vai estar presente o tempo todo, na verdade, ele está em casa agora, mas ele vem e vai quando pode, porque no final a gente também tem uma família e ele não pode estar em tudo. Ele também está escrevendo programas novos e futuros e não tem tempo para tudo.

– Você sente muita pressão tentando seguir os passos do seu pai?

– Bom, devo dizer que talvez no começo, por não saber para onde ia a nova série, senti muita pressão também, porque desde muito novo sempre fui muito duro comigo mesmo, mas poder levar o personagem para onde me sinto mais confortável, e graças ao meu pai, que afinal é pai, diretor, escritor, me deu uma mão, e me sinto muito confortável porque, no final das contas, vem de um ponto de vista muito mais dramático, que é onde estou. na minha zona de conforto, muito mais teatral, muito mais dinâmica, e a verdade é que tive a sorte de trabalhar isso com o meu pai, de mãos dadas.

– Você teve direito de voto nas decisões relativas à Prisionia? Você fez alguma alteração?

– A realidade é que o Suso é muito bom no que faz e às vezes é difícil ouvi-lo, é verdade que tentei acrescentar um ponto a um final mais feminino e jovem porque o Suso vem de uma época muito longe da tecnologia, muito mais analógica, e eu sempre fui muito mais digital, e foi isso que tentámos colocar na mesa e dizer que vamos fazer algo novo, muito mais relevante, pois vamos mudar de época, vamos dar uma oportunidade ao Circo dos Horrores. facelift, com momentos muito mais impressionantes a nível circense, outros mais recentes como os sete motociclistas em bola que representam os cérebros da inteligência artificial, ou as cinco raparigas da Etiópia que realizam um número de contorção, simulando a sua crionização, que faz parte de uma experiência com inteligência artificial. Então sim.

– Se houve grandes mudanças em relação a outros shows, por que o público deveria ir a este show desta vez?

– São muito diferentes entre si, mas é verdade que foram mudanças muito radicais. Sim, ocorreu uma mudança. Por isso, tanto eu quanto meu pai, assim como a empresa como um todo, tínhamos muito medo de ver que tipo de crítica receberíamos, porque para fazer uma mudança tão repentinamente, o Suso não estaria mais no palco, não iria mais chupar cabeças, e as pessoas esperariam que eu fizesse isso… Eu já disse que sim, todos nós temos um preço, mas por enquanto, minha língua está segura.

– Que tipo de feedback você recebe após suas primeiras apresentações?

– Bom, a verdade é que é muito bom, muito melhor do que eu esperava, que há muita energia, que desempenho a função com o máximo conforto. Também apresentei um ponto de vista mais cruel e rebelde. Estou dando aulas de dança este ano porque eles me deram tudo que podiam e muito mais. Eu também danço com os dançarinos da trupe. E acho que talvez esse ano eu tenha que aprender também… Todos os personagens que interpretei até agora, desde os cinco anos de idade, estiveram muito distantes da realidade, então falar e agir com minha própria voz é algo que nunca fiz antes. É verdade que estudei teatro durante quatro anos e isso também me ajudou muito, mas numa perspectiva mais difusa, a personagem de Azul é muito emotiva. Nessas duas horas ele passa por muitas emoções, é uma montanha russa de emoções. Então, passar por todos esses momentos em tão pouco tempo foi difícil, e tive que trabalhar muito, muito em casa, com meu pai, no escritório.

– O que você mais gosta em cada recurso?

– Acho que a parte final, onde tenho o texto dramático, é a parte que provavelmente me custou mais porque fala da verdade mais crua e faz o público entender isso, e é isso que todos nós já passamos, aqueles momentos em que você queria abraçar alguém que te machucou, sentir o medo, sentir a alegria, a esperança, transmitir isso e trazer para mim da maneira mais real… Quer dizer, não tem um dia que Sarah, assim como Sarah, não se emocione, e acontece comigo que quase todos os dias eu encontro-me em lágrimas por causa do quanto vim. Esse texto, que acho lindo, que o Suso escreveu muito bem, é verdadeiro.

– Seu pai sempre diz que a vida no circo é muito exigente. Já pensou em seguir um caminho diferente e mais tradicional?

– Você sabe o que está acontecendo? Já considerei tantas vezes a possibilidade de tentar encontrar outra opção caso não dê certo, porque você já sabe o que é espetáculo, arte… mas no final, todos os caminhos me levam até aqui, e o que me preenche não me preenche com outro trabalho. Também estava pensando em estudar jornalismo porque escrevo bem, mas no final disse: por que deveria seguir o outro caminho se fico tão nervoso toda vez que subo no palco? E também o facto de ter vivido rodeado disto desde criança e poder muito bem ter tomado um rumo diferente.

Na verdade, meu irmão, hoje com 12 anos, diz: “Não faço parte da família porque isso me dá muito respeito”, certo? E eu poderia continuar sendo uma família, mas não vejo outra saída senão essa, porque gosto muito, quem sabe, né? Mas no momento isso realmente me preocupa.

– Bem, é normal se isso é o que você vivenciou desde a infância…

– Sempre foi assim, conciliando e conciliando estudo com trabalho. Quando eu era pequeno eu pensava um pouco mais nisso… Bom, meus pais tentaram me fazer pensar nisso mais como uma brincadeira. Nunca encarei isso como um jogo porque para mim era super sério e tudo tinha que dar muito certo. Estou falando com você sobre quando eu tinha cinco anos. Por fim, meu pai me disse, escute, já que você está entrando no palco com roupas normais, vamos criar um personagem para você. E então um dia, durante uma apresentação, entrei furtivamente no palco e Suso me perguntou: você quer fazer isso? Bem, vamos criar um personagem.

Assim nasceu Dulce Sara, uma menina que jogava bola com a cabeça da mãe. Quer dizer, naquela época não teve nenhuma lesão, mas é verdade que foi… Foi fácil porque eu era uma boa aluna enquanto crescia, mas conforme fui crescendo, chegou um momento que eu já estava no ensino médio, e eu falei, vou ter que adiar um pouco porque foi no vestiário entre maquiagem e peruca e anotações, e não foi possível. E aí eu falei que acho que preciso parar um pouco, focar nos estudos, e quando eu terminar, bom, se eu quiser voltar, sempre estou com a porta aberta aqui.

-Você está planejando algum outro show?

– Tenho pensado nisso, mas tenho tanto medo dele e respeito tanto… porque tenho minha figura paterna que comete essas atrocidades, então é tipo… Talvez eu devesse tentar pular na piscina e talvez pedir para ele me ajudar no começo, mas por enquanto continuo deixando o Suso assumir esse papel porque se tirarmos isso dele, então… Ele terá tudo. Acho que ele vai ter coragem de sair da pista e um dia, quando entendermos isso, ele vai sair de novo. Não sei como ele consegue lidar com isso de fora, das sombras, porque no final das contas foi isso que eu falei para vocês, porque eu segui esse caminho, ele também percorreu no tempo dele, e para nós que vivemos de arte é muito difícil deixar isso de lado, então sempre volta, eu acho.

Referência