Shinichiro Watanabe é um personagem de anime. E ele sabe disso. Sério, atencioso, calculista, escuta com muita atenção as perguntas, tentando controlar todos os lados da conversa. O autor de obras de culto como “Cowboy Bebop' ou 'Samurai Champloo' … Ele gosta de expressar claramente suas opiniões e pontos de vista. Ele fala devagar, pensa primeiro e não deixa nada ao acaso. Ele só tem uma regra: se precisar tirar fotos, é preciso esperar que ele coloque os óculos escuros. Isso não é vaidade, é a mania do diretor de controlar ao máximo a história. E ele faz isso desde os anos 80.
Watanabe passou pela Feira de Mangá como uma verdadeira instituição, embora ainda haja muitas histórias para contar. Ele lançou seu último anime este ano. 'Lázaro', a triste história de um medicamento que é comercializado como um ótimo analgésico, mas depois de ser tomado como um analgésico milagroso, descobre-se três anos depois que seu efeito colateral é a morte. “Os filmes costumavam ser minha maior influência, mas à medida que fui crescendo, vi essa realidade e notícias, Eles contam histórias com muito mais eficácia. A realidade não é uma distopia nem uma utopia, é combinação perfeita e é isso que eu quero da minha animação”, disse Watanabe à ABC.
Sua introdução ao mundo da anime foi mais prática do que profissional. Os filmes de animação eram muito melhores que os filmes tradicionais porque não eram tão caros. Pelo mesmo orçamento, você pode criar uma história extravagante de ficção científica e uma história realista de ação ao vivo confinada a uma sala. Watanabe não teve dúvidas. “Lembro-me de ver 'Urusei Yatsura II. Linda sonhadora e fique hipnotizado pelo que a animação pode alcançar. A partir daí percebi o que queria fazer e esqueci completamente meu antigo sonho de me tornar um diretor de cinema regular”, lembra.
Em 1997, lançou um jogo que marcou sua carreira e se tornou um marco na anime. “Cowboy Bebop”. Esta mistura de faroeste, ficção científica e noir com conotações existencialistas nos apresenta um grupo de caçadores de recompensas que viajaram pela galáxia em busca de aventura. Foram apenas 26 episódios, mas sua influência continua até hoje.. Até a Netflix fez uma versão live-action em 2021, que ele não conseguiu ver depois do primeiro episódio porque já sabia na primeira cena que se não dirigisse não seria Cowboy Bebop. “Quando comecei, insisti em criar histórias que interessassem mais do que apenas o público local, em vez de serem feitas pelos japoneses para os japoneses. Adoro ver que o tempo provou que eu estava certo e agora os mangás e os animes são massivamente consumidos em todo o mundo”, diz ele.
O criador de Cowboy Bebop revela sua paixão pelo terror e sua visão para o futuro do anime
A chave para o fenômeno do anime Não tem nada a ver com as histórias que são contadas, nem com as referências que servem para as contar, nem com a criação de ícones pop reconhecíveis por todos, mas sim com a comunicação de emoções universais. “Se você contar uma história sobre dois amigos que se encontram e um deles desaparece ou um se volta contra o outro, isso evoca emoções universais em personagens reconhecíveis em todo o mundo. Não importa se é ficção científica, western ou terror, os personagens devem estar sempre no centro e viver a história através de suas emoções”, diz Watanabe.
O futuro dos animes
Ele tem certeza de que, apesar de completar 60 anos, ainda tem uma história para contar. E agora ele tem uma obsessão: contar uma boa história de terror. “Quando eu era pequeno, não conseguia assistir filmes de terror. Lembro-me de nomes como “O Exorcista” ou “Suspiria” e que eu não poderia chegar perto de vê-los. Porém, à medida que fui crescendo, me apaixonei por eles e agora quero explicar minha história, tenho essa necessidade”, observa. Não dá para revelar sobre o que será o enredo, mas será chocante. É um ótimo gênero para tempos como estes”, diz ele.
Ele olha para o futuro da anime com muito otimismo e não tem dúvidas de que continuará a ganhar audiência. “Estar em uma sala como o Barcelona é incrível. O entusiasmo dos torcedores é maravilhoso”, diz ele. Sua parte favorita do processo de produção é quando uma ideia é traduzida em animação e combinada com música para capturar todos os elementos do filme. E o sonho dos seus próximos trabalhos é poder adaptar a obra Filipe K. Dick. “À medida que você envelhece, você pensa mais no que está acontecendo com você e com o seu ambiente, com suas experiências e emoções. Isso lhe dá mais recursos para se expressar e suas histórias ficam mais ricas”, finaliza.