dezembro 1, 2025
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A vida é uma jornada de contratempos, seja pelo fim de um relacionamento, problemas de saúde, perda de emprego ou qualquer outra mudança importante que cause estresse. Todos nós passamos por reviravoltas e adversidades inesperadas, desde os desafios mais mundanos até eventos traumáticos mais dramáticos, como a morte de um ente querido ou uma doença grave, todos os quais podem testar os nossos limites.

Cada uma dessas mudanças nos afeta de maneira diferente e representa um fluxo único de pensamentos, emoções ou incertezas. Muito mais importante é a forma como respondemos a estes desafios inevitáveis. Na maioria dos casos, adaptamo-nos bem a situações que mudam a vida ao longo do tempo, e parte disso se deve à resiliência. Clara Cañas Iglesias, psicóloga clínica, explica-nos como nos ajuda a enfrentar os problemas e a recuperar de contratempos, e também nos dá dicas de como podemos lidar com isso.

Poder adaptativo de resiliência

Por que uma pessoa passa por momentos difíceis enquanto outra falha? “Resiliência é a capacidade das pessoas de resistir, adaptar-se e recuperar-se de situações adversas, como estresse extremo ou experiências traumáticas”, explica Cañas. Pudemos confirmar que as pessoas que permanecem calmas face às adversidades têm uma forte resiliência. Uma pessoa resiliente possui fortes habilidades de enfrentamento e organiza os recursos disponíveis, pedindo ajuda quando necessário e encontrando maneiras de lidar com a situação que enfrenta.

Para entender melhor, poderíamos fazer uma comparação com o que esta palavra significa em agronomia: estamos falando da capacidade de recuperação do solo após uma enchente ou incêndio, ou seja, a flora e a fauna se recuperam, mas de uma forma diferente de antes. Algo semelhante acontece com os humanos: nossa capacidade de se recuperar de traumas ou desafios da vida.

Mas, como esclarece o especialista, “ser resiliente não significa não sofrer, mas sim adaptar-se e seguir em frente apesar dos tempos difíceis”. Em vez de cair no desespero ou de se esconder dos problemas com estratégias pouco saudáveis, as pessoas resilientes enfrentam-nos de frente. Eles não apenas sobrevivem a situações difíceis, mas também as enfrentam e as processam de maneira mais saudável.

A resiliência não é uma qualidade específica de uma pessoa, mas sim algo que surge como resultado da interação de uma pessoa com outros fatores. “Essa capacidade surge de uma combinação de vários fatores pessoais e sociais que ajudam a manter o equilíbrio emocional. Por isso, a resiliência é considerada um elemento-chave do bem-estar psicológico e da saúde mental, por isso nos ajuda a enfrentar melhor as situações e, portanto, a viver melhor”, explica Cañas.

Quando aprendemos com a mudança sem negar a realidade

Pessoas resilientes procuram maneiras de resolver ou pelo menos melhorar a situação. Normalmente não gastam energia reiterando por que um problema é difícil ou injusto, mas antes dedicam esse tempo e energia mental e emocional para encontrar soluções. Cañas explica que “uma pessoa resiliente é aquela que, diante das adversidades, consegue se adaptar, aprender e sair mais forte das experiências difíceis. Isso não significa que não sofra, como mencionamos, mas que encontra uma maneira de seguir em frente e dar um toque positivo à experiência”.

O que uma pessoa resiliente tem? Sem dúvida, segundo a especialista, “sua força está baseada em vários traços de caráter e habilidades: ela sabe regular suas emoções, mantém uma autoestima positiva e encontra sentido em sua experiência mesmo em momentos de dor”. Mas também, através da sua experiência de aconselhamento, ele conseguiu ver que eram “pessoas assertivas, empáticas e confiantes, com fortes ligações emocionais e redes de apoio que melhoram o seu bem-estar”.

Esta capacidade de resolver problemas e aprender com as mudanças não os distancia da realidade nem os leva a negá-la. Como explica Cañas, uma pessoa resiliente se caracteriza por possuir as seguintes competências:

  • Bom autoconhecimento para que você possa compreender suas emoções, limites e pontos fortes.
  • Flexibilidade cognitiva para reinterpretar situações e adaptar-se às mudanças.
  • O valor do apoio social. Estas pessoas não estão sozinhas, mas procuram e aceitam apoio social quando precisam.
  • Um senso de propósito que lhes dá direção e motivação.

Embora em alguns casos possa parecer que a pessoa vive longe da realidade ou vê apenas o lado bom de tudo, nada mais. “As pessoas não vivenciam tudo de forma positiva; também sentem dor, tristeza ou decepção, mas não ficam presas nessas emoções”, explica Cañas. O que dá força a esse tipo de pessoa é que elas reconhecem o sofrimento, vivenciam-no e aprendem com ele.

Em suma, uma pessoa resiliente “combina autonomia, empatia, assertividade e autoconfiança, sendo capaz de regular emoções, resolver problemas e manter relações seguras”, conclui o especialista.

Aumentando a sustentabilidade

Resiliência não é uma qualidade ou atributo com o qual você nasce. Pelo contrário, é um conjunto de habilidades que podem ser desenvolvidas através da repetição de certas ações. A resiliência “não é uma qualidade inata, mas sim uma capacidade que se treina através da experiência e do trabalho pessoal”, afirma Cañas.

É importante ressaltar que a resiliência requer um conjunto de competências que podem ser trabalhadas e desenvolvidas ao longo do tempo. Este não é apenas um traço fixo, vivenciamos um processo que se desenvolve e se fortalece ao longo da vida. Construir resiliência exige tempo, esforço e ajuda. “Trabalhar a resiliência envolve fortalecer a saúde mental, as habilidades socioemocionais e a capacidade de adaptação diante das adversidades”, explica Cañas.

Não importa quão jovens ou velhos sejamos, podemos construir resiliência em qualquer fase da vida. Como? Para Cañas, o primeiro e mais importante é o autoconhecimento e a autoconfiança, que nos ajuda a “reconhecer nossos recursos internos, nossos limites e conquistas”. Outro aspecto fundamental é “reenquadrar os pensamentos negativos, substituindo interpretações catastróficas por outras mais realistas e equilibradas”, afirma Cañas. O conjunto de todas estas competências cognitivas é o que nos permite “enfrentar os desafios de uma forma mais construtiva”.

O trabalho para construir resiliência não termina aí. Outro pilar fundamental, segundo a especialista, é a autorregulação emocional, ou seja, a capacidade de lidar com o estresse, a decepção ou o medo. “Na prática clínica, métodos como atençãorespiração consciente, escrita terapêutica ou relaxamento progressivo, que podem ajudar a melhorar o autocontrole e reduzir a reatividade emocional”, afirma Cañas.

Já vimos que uma das qualidades de uma pessoa resiliente é o valor das ligações sociais. Portanto, se quisermos trabalhar nisso, devemos reconhecer a necessidade de “promover fortes ligações emocionais com familiares ou amigos, pois ter uma rede de apoio funciona como um fator de proteção contra as adversidades”, explica Cañas.

Tudo isso seria inútil se não trabalhássemos para encontrar sentido naquilo que vivemos, para “integrar experiências dolorosas e transformá-las em oportunidades de aprendizagem. Esta busca de propósito e significado facilita a recuperação pessoal de traumas ou perdas”, diz Cañas.

“A resiliência não substitui a saúde mental, mas apoia-a: ensina-nos que não se trata de não cair, mas de aprender a levantar-se cada vez com mais sabedoria e força”, conclui Cañas.