novembro 22, 2025
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Há alguns anos, na Alemanha, o diretor Jorge Ramirez sofreu morte clínica. Durante a apresentação do filme no Festival de Cinema de Berlim, ele foi agredido por jovens ao chegar ao local onde estava hospedado. Ele bateu a cabeça no asfalto congelado. Lembre-se, era fevereiro e a temperatura estava quatro graus abaixo de zero. Ele não conseguia se levantar porque machucou o pescoço. Duas horas depois, um taxista o viu. Ele salvou sua vida. Ficou seis meses internado, dos quais passou três meses em cadeira de rodas. Ele começou a se perguntar sobre sua vida: se conseguiria voltar a andar, se conseguiria atuar em filmes ou voltar a ter uma vida normal. Foi nesse período que ele pôde ler o romance. MutaçõesJorge Comensal. Ele encontrou semelhanças em Raoul, seu personagem principal, apesar das diferentes situações pelas quais cada um deles passou. Decidiu exibi-lo no cinema e assim nasceu uma adaptação de seu novo filme estrelado por Tony Dalton, que considera uma metáfora de sua própria experiência.

Mutações apresenta Raoul (Dalton), um advogado que enfrenta uma cirurgia de emergência devido a um agressivo câncer de língua que está fazendo com que ele perca aquele órgão muscular e sua fala. Isso muda sua vida e seu relacionamento com a esposa e os filhos adolescentes. Elodia (Monica del Carmen), a governanta, dá-lhe um papagaio falante que só fala coisas de leproso. O papagaio passa a ser o interlocutor imaginário de Raoul, e Elodia passa a ser sua enfermeira única, que dá mais importância às curas e orações milagrosas do que às possibilidades da medicina.

Ramirez (56, Cidade do México) admite que tinha Dalton (50, Laredo, EUA) em mente quando escreveu o roteiro. Eles já trabalharam juntos em Amor (2009), um de seus filmes anteriores e da série de TV Simuladores (2008), produção em que dirigiu um episódio. “Tony sempre interpreta o vilão. Eu disse que Tony poderia fazer outra coisa.

Dalton e Ramirez tiveram diversas conversas para moldar o personagem. Da mesma forma, o personagem-título teve que perder peso gradativamente ao longo de seis semanas de filmagem para refletir a condição médica de Raoul, além de um processo de maquiagem “longo e extenso” todos os dias para mostrar a deterioração causada pelo câncer em etapas. As formas de linguagem e comunicação são dois pilares que sustentam as diversas situações pelas quais o personagem passa, o que foi um desafio de grupo para a equipe de produção.

“Não conversei com muita gente durante as filmagens. Por isso, a fotografia do Sr. Tanaka (Sergei Saldivar) e a direção do Jorge foram um fator importante para transmitir o que o personagem consegue dizer sem dizer uma palavra. Então, foi um trabalho de escolher o plano, o ambiente, a posição da câmera para dizer o que o protagonista não conseguia dizer em palavras. Acho que foi conseguido muito bem”, explica Dalton com Ramirez ao lado.

O diretor afirma que o romance, obra de estreia de Commensal, traduzido para 10 idiomas, contém profunda reflexão, análise e muita informação sobre o que é o câncer. Esses são alguns dos aspectos que se tentou trazer para a telona, ​​além de elementos do roteirista que ajudam a interpelar o personagem, como o uso de uma babá eletrônica. Ou os detalhes da irmandade que existe entre as mulheres, principalmente entre a personagem Elodia e Carmela, esposa de Raoul (Vicky Araiko).

Fora do México, algumas pessoas que veem Dalton pensam imediatamente em Lalo Salamanca, um dos vilões mais memoráveis ​​da televisão graças à sua passagem pelo programa. Melhor ligar para Saul. Embora ele nem sempre tivesse que interpretar personagens como em O assassinato termina (2004) ou SimuladoresEle acredita que entre outras produções de cinema, televisão e teatro é fácil cair na tipografia de determinados papéis ou personagens.

“Eu não acho que interpreto personagens que são chamados de ruins. Dizer que um personagem é ruim soa como uma novela. Todos os personagens têm uma justificativa para explicar por que são do jeito que são. Sim, acontece que você pode ser classificado em determinados papéis. Nunca tive a oportunidade de ser um personagem com tanta profundidade, uma pessoa que está lutando por sua vida, contra o câncer e que está tentando proteger os bens de sua família. Abordo todos os personagens de um ângulo, em que você tenta entender o que está acontecendo com eles, por que eles estão sofrendo ou por que não estão sofrendo. Foi isso que me tocou neste filme”, acrescenta o ator.

Dalton diz que o filme não encara as situações levianamente. Nesse sentido, Ramirez diz que eles tiveram muito cuidado em encontrar e manter o tom que pretendiam dar Mutações. Respeitaram a visão de um romance que não é melodrama e não é algo trágico ou violento, ao mesmo tempo que apresenta “situações simpáticas”. O realizador admite que em quase todos os seus filmes, mesmo que sejam dramáticos ou filme de ação Sempre há um pouco de humor na política, “porque a vida é assim”.

“Se não pudéssemos rir ou experimentar as coisas boas da vida, não seríamos humanos, e é por isso que gostei do romance também. Nesse sentido, o filme também é muito mexicano. Por exemplo, ter um papagaio dizendo “leprosos” faz o filme parecer uma trilha sonora com altos e baixos. Como disse Tony, o tom do filme é muito realista. Ao mesmo tempo, “todos os outros estão tentando fazer sua parte para se adaptar à nova realidade”, diz Ramirez.