dezembro 14, 2025
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A Casa Branca fecha mais um capítulo na história das tensas relações com o Brasil nos últimos meses. O governo de Donald Trump anunciou esta sexta-feira que vai levantar as sanções contra o juiz do Supremo Tribunal Alexandre de Moraes, investigador do golpe que levou à prisão o ex-Presidente Jair Bolsonaro. Em julho, Trump anunciou que puniria um juiz por uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro, mas cinco meses depois o cenário mudou radicalmente.

Em breve comunicado, a Secretaria da Fazenda anunciou que o juiz Moraes, sua esposa Vivian Moraes e Lex, onde ambos são sócios, estão saindo da lista da Lei Magnitsky. A nota não explica as razões desta decisão. Também não há menção a outros juízes do Supremo Tribunal e ministros do governo que também foram sancionados.

O fim da punição de Moraes, que a extrema direita brasileira considera o inimigo número um, agrava o fracasso de outro pilar da estratégia de pressão utilizada pelo deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente dos EUA: as tarifas sobre as importações de produtos brasileiros. Trump impôs tarifas recorde de 50%, mas nos últimos dias, após semanas de negociações cautelosas, retirou a maioria dos produtos da lista, para deleite dos empresários exportadores.

Para Moraes e demais sancionados, a lei significou, antes de tudo, um bloqueio econômico: o bloqueio de contas e ativos que possuíam nos Estados Unidos e a impossibilidade de realizar transações com os principais cartões de crédito americanos. As ações dos bancos brasileiros subiram em bolsa depois de terem sido conhecidas as notícias da decisão desta sexta-feira, pois há meses temiam que qualquer movimento suspeito relacionado com o contacto com um juiz implicasse enormes sanções financeiras.

Na época, o magistrado classificou sua inclusão na lista Magnitsky de “ilegal e lamentável” e alertou que prevaleceriam a coragem institucional e a defesa da soberania nacional, já que os juízes brasileiros não estavam dispostos a tolerar coerção ou obstrução. A verdade é que a pressão dos EUA não funcionou: o julgamento de Bolsonaro e dos demais acusados ​​de liderar o golpe correu bem, e Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão, pena que cumpre numa esquadra de Brasília.

Após a decisão de Trump, um dos filhos do ex-presidente, o congressista Eduardo, emitiu uma declaração concisa admitindo ter recebido a notícia “com pesar”, mas ainda agradecendo ao republicano pela sua atenção à “grave crise de liberdades que assola o Brasil”. Para o deputado, trata-se de uma derrota pessoal total. Em março deste ano, instalou-se nos Estados Unidos para pressionar a Casa Branca a impor sanções ao Brasil, o que conseguiu fazer. O que ele falhou foi salvar seu pai.

Os apoiantes de Bolsonaro chegaram a manifestar-se nas ruas do Brasil com bandeiras dos EUA e a pedir a Trump que apertasse ainda mais os parafusos. No entanto, Eduardo Bolsonaro acredita que a sociedade brasileira não soube aproveitar a “janela de oportunidade que tinha nas mãos” e culpou o seu próprio povo: “A falta de coesão interna e o apoio insuficiente às iniciativas levadas a cabo no exterior contribuíram para a deterioração da situação atual”, afirmou.

As decisões da Casa Branca ocorreram após diversas conversas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Trump durante as quais demonstraram química e harmonia pessoal. O republicano elogiou repetidamente o veterano esquerdista, mas quando questionado sobre a prisão de Bolsonaro, que era seu aliado incondicional, demonstrou pouca indignação. “Não sei de nada, isso aconteceu? É uma pena”, disse ele rapidamente.

No momento, o Brasil vai ganhando gradativamente todos os pontos no cabo de guerra com os Estados Unidos iniciado em julho, mas a expectativa é que em algum momento as contrapartidas cheguem. Sabe-se, por exemplo, que o interesse dos EUA nos ricos elementos de terras raras do país tropical estava na mesa de negociações.

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