dezembro 16, 2025
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O empresário Alberto Esgueva, um dos principais arguidos no chamado caso de conspiração do vento, para o qual os procuradores pedem uma pena total até 12 anos de prisão e uma multa de 68 milhões de euros, compareceu terça-feira em tribunal como vítima das consequências económicas e pessoais do procedimento. Além disso, o arguido defendeu a legalidade das suas atividades no setor da energia eólica e negou ter recebido tratamento favorável da Junta de Castela e Leão ou pago comissões a funcionários governamentais.

Esgueva, que testemunhou apenas em resposta a perguntas do seu advogado, apontou o impacto que, na sua opinião, a atuação da Agência Tributária e a publicidade do caso tiveram: “Colocaram a minha casa em leilão, interferiram no meu património, quitaram cada euro que entrou nas contas, tivemos que despedir todos os funcionários, e com a publicação deste caso terminou o meu projeto empresarial em Espanha e na Polónia”, assegurou.

O arguido entrou no setor em dezembro de 2004, quando a Iberdrola se ofereceu para atuar como parceiro local para o desenvolvimento de parques eólicos em Castela e Leão. Como resultado deste acordo foi criada a Energía Global Castellana, na qual participaram o Grupo San Cayetano e a subsidiária da Iberdrola Biovent, com um capital inicial de 60.000 euros. Conforme explicou, o papel do seu grupo era facilitar os procedimentos administrativos e os acordos com os proprietários de terras.

Três anos depois, em 2007, decidiu abandonar o projecto e vender a sua participação à Iberdrola por 47,1 milhões de euros, valor que a empresa justificou pela fórmula prevista no contrato original, com base nas previsões de produção do parque. Além disso, alegou que esta operação foi declarada e tributada com impostos no valor aproximado de 3 milhões de euros.

No entanto, referiu que a Agência de Administração Pública Tributária (AEAT) considerou esta operação não uma simples venda de ações, mas sim uma atividade económica sujeita a IVA, resultando num embargo de 13 milhões de euros. Na sua opinião, esta decisão deu início a uma cadeia de execuções que estrangulou financeiramente as suas empresas.

Situação semelhante, explicou, ocorreu com outros projectos de energia eólica promovidos em conjunto com a empresa Preneal, que também o contactou para actuar como parceiro local. No entanto, apenas dois parques foram desenvolvidos na província de Soria e mais onze em diferentes províncias não receberam autorização. Apesar disso, reiterou que o Ministério das Finanças classificou as transações subsequentes como atividades económicas e exigiu o pagamento do IVA.

O arguido também prestou explicações sobre a venda de um apartamento em Comillas, Cantábria, Delgado em 2005 e de um chalé na urbanização El Pichon em Simancas, Valladolid, transações que disse terem ocorrido após o divórcio do marido e a preços de mercado. Da mesma forma, também nega que qualquer dos lucros obtidos tenha sido utilizado para pagar comissões a funcionários ou funcionários públicos.

Alberto Esgueva foi CEO da Excal, o órgão público para a internacionalização do governo regional de Castela e Leão, de 2003 a 2006, antes de passar para a iniciativa privada. Esteve envolvido em diversos processos além da conspiração do “vento”, como o caso Pérola Negra, no qual foi absolvido, e manteve diversas disputas com a Receita Federal sobre a tributação de suas transações comerciais. Num deles, os tribunais anularam uma reclamação no valor de quase 20 milhões de euros ao constatarem um erro na atuação do Tesouro, enquanto outros projetos promovidos por empresas coligadas, como o complexo turístico Montealegre de Campos, em Valladolid, terminaram em embargos e leilões por não terem sido realizados.

Francisco Esgueva aponta o irmão como gestor da parte eólica das suas empresas.

Após sua aparição, outros réus também prestaram depoimento. O seu irmão Francisco Esgueva, que enfrenta 12 anos de prisão e uma multa de 14,5 milhões de euros, disse que o controlo do negócio da energia eólica passou principalmente para Alberto e que não beneficiou dos 47 milhões recebidos com a venda à Iberdrola porque já tinha vendido anteriormente a sua participação. Além disso, garantiu que conheceu Delgado apenas por tê-lo conhecido num evento público.

Também compareceu o empresário Germán José Martín Giraldo, sócio de Esgueva na Cronos Global, acusado de dois crimes pelos quais lhe é pedido o pagamento de uma multa de 14,5 milhões de euros e doze anos de prisão. Argumentou que a crise financeira de 2008 e os embargos impostos pelas auditorias fiscais aceleraram a venda de activos e o encerramento de projectos imobiliários na Polónia. Relativamente aos 7 milhões de euros pagos por Preneal à Cronos, rejeitou o facto de se tratar de uma doação e disse que se tratava do preço de revenda das ações, uma transação que, segundo ele, foi em grande parte confirmada pelo Supremo Tribunal.

A reunião prosseguiu com a declaração do empresário César Hernández Chico, a quem o Ministério Público pede 7 anos de prisão e cerca de 1,9 milhões de euros em multas por crimes em curso relacionados com suborno e tráfico de influência, que admitiu que numa reunião com Rafael Delgado foi recomendado ter parceiros locais para o desenvolvimento de projetos de energia eólica, prática que descreveu como comum no setor.

Referência